Foi ela quem fez a promessa que deu origem ao grupo que saiu do Chiado, em Lisboa, com o padre Carlos Macedo, na madrugada de domingo, e chegou ontem a Fátima.
Em 2008 foi parar ao hospital Curry Cabral de onde saiu com o diagnóstico de um tumor no osso do braço. “Está tão mal, o seu caso, que a única solução é amputação”, disse-lhe a médica. Nesse dia, o mundo caiu-lhe aos pés, conta. “Para mim o mundo já não fazia mais sentido. Pensei: com 45 anos o que é que eu vou fazer sem um braço? Eu tenho de trabalhar, tinha uma filha ainda pequenina, o meu filho também… Desesperei”.
Saiu do hospital e foi ao IPO, porque também lhe tinha sido detectado um nódulo no peito. “Foi tudo junto. Foi uma bomba”. Quando saiu do IPO olhou para o céu e pediu. “Mãe, se não me cortarem o meu braço, eu vou a Fátima a pé”. Nove anos depois, conta como foi. “A mãe ouviu-me. A segunda vez que fui ao hospital, a médica fez-me o mesmo diagnóstico e até me disse o que é que eu lá estava a fazer porque já devia ter tratado da amputação”.
Saiu lavada em lágrimas, foi à médica de família e pediu para ser seguida por outro médico. No IPO de Lisboa levou o seu “diagnóstico muito mau, negro” a outro médico. O médico disse-lhe que ia ver e se era possível recuperar. Em 2009 foi operada e conservou o braço. Em 2011, na sacristia da igreja, disse que tinha uma promessa para cumprir e que sozinha não conseguia. “Quem me quer acompanhar?”. Foi tudo bem mais simples do que podia pensar. “O senhor padre disse logo que podia e todos se organizaram”. E a partir daí, em 2011, cá estamos nós.
A imagem de Nossa Senhora sempre lhe deu muita força, desde que se lembra. “Agarro-me muito a ela. Há momentos na vida que temos de nos agarrar a alguém e ela está ali”.
A devoção não a poupou ao sofrimento. A primeira peregrinação, em que cumpriu a sua promessa, custou-lhe — muito. O grupo que o diga, conta-nos. “Os meus pés abriram todos. Eu fui de rastos, o senhor padre de um lado, uma senhora do outro e eu dizia ‘amanhã não me mexo, estou paralisada para o resto da minha vida’. No outro dia estava fresca e íamos para mais 30 quilómetros. Nunca mais desisti”.
Sente-se feliz por ser a mãe deste grupo de peregrinação. “Eu pedi à Nossa Senhora, fui ouvida e partir daí organizei um grupo que está a aumentar muito. Éramos 12 ou 13 e agora estamos à beira de 40”. Já fez três vezes a peregrinação e chorou nos anos em que eles foram e ela ficou.
Chegar a Fátima foi uma alegria muito grande. Agradeceu à "Mãe" por lhe ter mantido o meu braço. No outro já estava pronta para fazer mais 150 quilómetros. “Isso é que é estranho”, diz. E corrige-se: “não é estranho, porque a Deus nada é impossível”. Sentiu muita força, muita força.
Este ano sente qualquer coisa especial. “Parece que há qualquer coisa que me diz que a Mãe nos vai revelar um sinal, parece que há qualquer coisa que nos vai acontecer”. Qualquer coisa de bom ou de mau? “De bom, de bom …”.
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