“É uma peça com cerca de 11 metros de altura, o equivalente a mais de três andares, com oito metros de largura, e vai ficar num jardim que, neste momento, está a ser requalificado para colocar a escultura”, adiantou à agência Lusa o escultor do monumento, Fernando Crespo.

À agência Lusa, o escultor desvendou que são “duas figuras antroponómicas, feitas em aço inoxidável e vitrais de cores”, que representam duas pessoas, ambas, com cravos na mão.

“É o vermelho de sangue, de luta, o azul de mar, céu, liberdade, o verde de esperança. As cores são uma mensagem subliminar que estabelecem a ligação emocional com o observador”, uma vez que também são as cores da bandeira nacional, contou.

Fernando Crespo disse que a peça que será inaugurada em Carregal do Sal, no distrito de Viseu, no Dia da Liberdade, nasceu a partir das “vivências da ditadura que deixou marcas na família, tanto económicas como emocionais”.

“E também do que senti na pele. Eu tinha 20 anos e morava num quartinho em Lisboa que tinha uma varanda na esquina com a rua do Ouro e a rua da Vitória, e tenho as memórias do silêncio estranho dessa manhã, não havia trânsito, e das pessoas a falarem alto e da euforia que tinham”, lembrou.

Nesse sentido, assumiu que manteve “sempre aquela euforia vivida” nessa madrugada e que a tentou transmitir para a peça que “é, sobretudo, de aclamação” ao 25 de Abril e também de “felicidade pela conquista” do dia.

“Quando o meu neto Vicente, aos cinco anos, olhou para a escultura no computador e me disse que o que via eram ‘duas pessoas felizes’, senti que era o aval que precisava para confirmar que a escultura é mesmo felicidade e aclamação”, contou.

Fernando Crespo admitiu que, “sem pensar, e possivelmente, subconscientemente, a altura da escultura é a da varandinha do quarto” em que vivia alugado em Lisboa, há 50 anos, onde testemunhou “o novo amanhecer”.

“Não tenho a mania das grandezas, mas só faço trabalhos com uma dimensão grande, porque acho que o impacto é muito importante e, por isso, as coisas não podem ser pequeninas. Uma arte que não causa impacto não tem valor”, defendeu.

A escultura alusiva aos 50 anos do 25 de Abril vai ser colocada numa nova praça que está a ser requalificada e que será a entrada do futuro Parque Verde da vila de Carregal do Sal, disse à agência Lusa o presidente do município.

Paulo Catalino Ferraz lembrou que, desde a tomada de posse, que defendeu que o concelho “deveria ter um monumento alusivo ao 25 de Abril” e, por isso, foi lançado o desafio e, “entre as propostas que surgiram, a do Fernando Crespo foi a que apaixonou todo o executivo”.

“A escultura tem uma beleza muito própria e espelha bem os valores da Liberdade que é uma família com os cravos vermelhos”, destacou o autarca, que disse tratar-se de “um investimento de cerca de 200 mil euros, entre a peça e o trabalho, e a logística necessária” para a sua implementação.

Este não é o primeiro trabalho de Fernando Crespo em Carregal do Sal, uma vez que o painel do salão nobre dos Paços do Concelho, edifício inaugurado em 2004, é da sua autoria.

A Casa do Passal, onde viveu Aristides de Sousa Mendes e cuja inauguração enquanto museu está marcada para 19 de julho, terá também uma escultura de Fernando Crespo, nos jardins exteriores.

“O que faço tem de me dizer algo, ou estar ligadas a alguém ou a alguma causa com que me identifico, porque acredito que isso também transparece no meu trabalho e, daí, a nova escultura que nascerá nos jardins do Museu de Aristides de Sousa Mendes”, disse.