“A interconexão pelos Pirenéus catalães pode estar operacional em oito ou nove meses do lado da fronteira sul. Por isso, é fundamental avançar de mão dada com França”, disse hoje a ministra com a pasta da energia no governo espanhol, Teresa Ribera.
A ministra afirmou que “a intenção” do Governo de Espanha em relação a este gasoduto previsto para os Pirenéus era, “desde o primeiro momento, que fosse financiado como um projeto europeu”, que teria de ser trabalhado “em simultâneo” com França.
“Tem pouco sentido nós corrermos muito e do lado francês transformar-se num beco sem saída por não haver forma de escoar o gás”, afirmou Teresa Ribera, numa entrevista na televisão pública espanhola (RTVE).
A ministra acrescentou que este tipo de infraestruturas tem de estar preparada para uma vida útil de 30 a 50 anos e ter capacidade para no futuro transportar também hidrogénio.
O projeto do novo gasoduto dos Pirenéus, “num determinado momento, decaiu porque não era viável economicamente num contexto em que o gás russo era muito mais barato do que o gás liquefeito”, explicou a ministra.
Agora, Espanha voltou a trabalhar neste assunto com França, com o objetivo de “acelerar uma primeira interconexão com menor complexidade”, acrescentou.
Além disso, e a pensar mais no imediato, Espanha propôs aumentar a capacidade de dois gasodutos menores que já existem no País Basco, também na fronteira com França, recorrendo a novos compressores.
Neste caso, “seria uma questão de muito poucos meses, dois ou três”, afirmou a ministra.
Outra proposta espanhola é “organizar uma ponte marítima” usando petroleiros de grande dimensão que conseguem chegar a Barcelona e a partir daí levar o gás liquefeito para Itália em barcos mais pequenos.
Sobre a proposta do líder do governo alemão, Olaf Scholz, para o gasoduto pan-europeu, Teresa Ribera considerou que “a maior vantagem destas declarações” de quinta-feira é que realçam que “as interconexões na União Europeia não são uma questão bilateral”.
Espanha, afirmou, já transmitiu ao Governo alemão “a possibilidade de a própria Alemanha ser convidada para participar no grupo de trabalho que tem o objetivo de melhorar as interconexões com França”.
A ministra lembrou que Espanha e Portugal têm estado, até agora, isolados do resto da União Europeia nesta matéria.
“Há um esqueleto de gasodutos que liga os países da União Europeia, sobretudo o centro e o leste, e no entanto, no extremo ocidental, ficámos isolados. O problema são os Pirenéus, como se atravessam e como se ligam a França”, afirmou.
Outra ministra espanhola, Reyes Maroto, que tem a tutela da Indústria, Comércio e Turismo, disse hoje que Espanha vai empenhar-se em melhorar a regaseificação europeia e que os países mais dependentes do gás russo podem contar “com a solidariedade dos países mais bem preparados”, como Portugal e Espanha.
Numa entrevista na televisão Antena 3, Reyes Maroto, questionada sobre a proposta alemã, referiu a reação do primeiro-ministro português, António Costa, que disse que a Alemanha podia contar a 100% com Portugal para a construção do gasoduto pan-europeu.
“Colocaremos todo o nosso empenho na melhoria da regaseificação e em que os países mais afetados por um futuro corte de gás russo possam ter a solidariedade daqueles que estão mais bem preparados, como pode ser o caso de Espanha e Portugal”, acrescentou a ministra Reyes Maroto.
Espanha e Portugal têm pedido à União Europeia (UE) para acelerar o aumento das interconexões para transporte de gás entre a Península Ibérica e outros países da Europa.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, tem repetido nas últimas semanas que Espanha tem “a maior infraestrutura de regaseificação” da União Europeia (30% do total), que pode colocar “à disposição” dos sócios europeus, transformando-se “num ‘hub’ de gás natural liquefeito” e assim ser uma alternativa ao gás russo “de que dependem muitíssimos países” europeus.
A Rússia é o país de origem de 45% do gás importado pelo conjunto da UE, mas no caso de Portugal e de Espanha representa menos de 10%.
A Península Ibérica tem poucas interconexões com o resto da Europa e criou capacidades próprias, com investimentos relevantes nos últimos anos nesta área.
Segundo o primeiro-ministro espanhol, 20% das importações de gás que Espanha recebe nas suas infraestruturas já têm como destino outros países europeus, mas é preciso haver mais interconexões para aumentar esta percentagem.
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