"Podemos confirmar que está registada no Congresso a moção de censura", declarou à AFP uma fonte do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE). Os líderes socialistas debateram o assunto numa reunião em Madrid.
O candidato para substituir Rajoy como chefe de Governo será Pedro Sánchez, líder do PSOE, que atualmente não é deputado na Câmara.
O registo da moção de censura do PSOE, que foi levada em mão pela porta-voz do partido, Margarita Robles, ocorreu antes de o secretário-geral do partido, Pedro Sánchez, informar a direção nacional do partido, que está reunida neste momento na sede, em Madrid.
Sanchez reuniu-se na quinta-feira com parte da liderança do partido para analisar a possibilidade de apresentar a moção, que foi entregue esta manhã na Câmara Baixa.
A moção havia sido exigida na quinta-feira pelo líder do partido Podemos, Pablo Iglesias, que já havia adiantado que a apoiaria.
Iglesias denunciou que a decisão do "caso Gürtel" é a prova de que há "um partido delinquente" no comando do Governo, o que não se pode permitir em nenhuma democracia.
Com o apoio do Podemos a essa moção de censura, todos os olhos estão agora voltados para o partido Cidadãos.
O seu presidente, Albert Rivera, anunciou na quinta-feira que o seu partido "avaliará" o que vai fazer no resto da Legislatura e a sua relação com o Governo depois da sentença do "caso Gürtel" contra o Partido Popular (PP), que colocou o Executivo e o país em uma situação “tão grave”.
"Há um antes e um depois" após a decisão do tribunal, disse Rivera.
Antes de saber da notícia da entrega da moção de censura, o vice-secretário de comunicação do PP, Pablo Casado, considerou que esta moção não seguiria em frente, já que "não teria a soma de votos necessária", sem o apoio dos Cidadãos ou de outros partidos.
A moção precisa do apoio de 176 deputados de um total de 350, uma maioria difícil de alcançar por uma oposição muito dividida.
O caso "Gürtel"
Ontem foi revelada uma sentença datada de 17 de maio em que a Audiência Nacional condena o Partido Popular [PP] a pagar 245.492 euros como "partícipe a título lucrativo" no chamado caso "Gürtel".
Os dois principais responsáveis, o ex-tesoureiro do PP Luis Bárcenas e o empresário Francisco Correa, foram condenados a 33 anos e 4 meses e a 51 anos e 11 meses de prisão, respetivamente.
Depois de um julgamento que se estendeu de outubro de 2016 a novembro de 2017, a Justiça considerou provada a existência entre 1999 e 2005 de subornos a funcionários e dirigentes do PP em troca de licitações públicas em vários municípios das regiões de Madrid e Castela e Leão.
Esses factos "produziram benefícios económicos quantificáveis ao Partido Popular, que consistem no financiamento ilegal de atividades e diversos atos políticos", afirma a sentença de quase 1.700 páginas.
O texto também confirma a existência de um "caixa 2" na sigla, "uma estrutura financeira paralela à oficial existente pelo menos desde 1989".
O responsável por esta caixa era Luis Bárcenas, ex-intendente e ex-tesoureiro da formação, suspeito de ter escondido uma fortuna na Suíça e condenado agora a pagar 44 milhões de euros por lavagem, fraude fiscal e outros crimes.
Há vários anos que o caso "Gürtel" consome o Partido Popular de Rajoy, que perdeu em 2015 a maioria absoluta no Congresso espanhol castigado pelas políticas de austeridade e os vários escândalos de corrupção.
Em julho de 2017, Rajoy foi citado como testemunha no julgamento, na única ocasião em que um dirigente espanhol no exercício do cargo testemunhou num tribunal. Na ocasião, o líder conservador garantiu desconhecer a gestão financeira do partido e disse "nunca" se ter ocupado de "qualquer questão de contabilidade".
Mariano Rajoy nunca foi envolvido diretamente no caso Gürtel, mas os seus cargos de responsabilidade no PP têm levado os opositores a acusá-lo de ter “fechado os olhos” ao esquema. Este e outros escândalos de corrupção que envolvem membros do PP contribuíram para que o partido perdesse em dezembro de 2015 a maioria absoluta que tinha no parlamento espanhol.
Das 37 pessoas julgadas, 29 foram condenadas a uma pena total de 351 anos de prisão por crimes de formação ilícita, suborno, prevaricação, lavagem, entre outros.
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