As eleições para o Parlamento Europeu estão marcadas para 9 de junho na Hungria (mesma data que em Portugal) e por estes dias já se veem em Budapeste grandes cartazes políticos com a imagem da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sentada numa poltrona juntamente com opositores de Órban caracterizados como empregados de mesa, nos quais se lê “humildes servidores de Bruxelas” em questões como “migração, género e guerra”.

Da autoria do partido nacional-conservador Fidesz, que está no poder na Hungria há 14 anos, os cartéis juntam ‘rivais’ de Órban como o popular líder do novo partido Respeito e Liberdade (TISZA), Péter Magyar, o antigo primeiro-ministro socialista Ferenc Gyurcsany, a eurodeputada socialista Klára Dobrev e o presidente da Câmara de Budapeste eleito pelos Verdes Gergely Karácsony.

Mas apesar de Péter Magyar ser um nome recente nestes cartazes, nenhum dos temas abordados causa estranheza a responsáveis associativos, incluindo ao coordenador do projeto Háttér (representativo de pessoas LGBT na Hungria), que quase conformado admite à Lusa em Budapeste que “o governo tem usado estes cartazes como um truque de comunicação para criar medos irreais e dizer que vão salvar a população”.

Para Vivien Vadasi, consultora jurídica da Associação Húngara para os Migrantes Menedék, estes grandes cartazes, que contrastam com os pequenos posters dos partidos da oposição, visam apenas criar “ruídos brancos” junto da população, que hoje em dia “já nem liga”.

Na ala conservadora húngara, este tipo de mensagens não são vistas como antidemocráticas, mas antes “uma abordagem soberanista” às “exigências da União Europeia”, diz o diretor executivo do Colégio Mathias Corvinus em Bruxelas, Frank Füredi.

Antigo comunista e hoje populista democrático, Frank Füredi argumenta que “as pessoas não pediram migração em massa ou integração da identidade de género na política”.

Também o secretário de Estado da Comunicação Internacional, Zoltán Kovács, diz em entrevista à Lusa apenas estarem em causa “regras que têm de ser seguidas” para migração regular, mudança de sexo só após os 18 anos e foco na paz em vez da guerra.

Esta não é a visão da investigadora Zsuzsanna Szelenyi, que começou a sua carreira como membro do partido Fidesz e o deixou quando Órban assumiu a liderança. Falando à Lusa em Budapeste, a analista qualifica esta como uma “propaganda governamental muito desagradável” na qual são gastos “milhões de euros dos contribuintes” para garantir “o domínio” dos cartazes políticos, pagar a influenciadores pró-governo e limitar o acesso à oposição no espaço mediático.

Mesmo que o Fidesz difunda a ideia de que a Hungria é “um país pró-família”, nomeadamente noutros cartazes colocados no aeroporto de Budapeste, certo é que, para o investigador Bulcsú Hunyadi do Instituto do Capital Político, a “imagem do governo de proteger as crianças foi afetada” com o recente escândalo relacionado com um indulto num caso de pedofilia.

“O governo utiliza os políticos da oposição e as organizações não-governamentais para alimentar a agenda anti-género e anti-LGBT, mas depois é o próprio a falhar”, compara Bulcsú Hunyadi, falando num contexto de “cereja no topo do bolo” para o surgimento de “uma superestrela”, Péter Magyar.

Bulcsú Hunyadi descreve a sua ascensão como uma “exceção na história política húngara recente, em que alguém consegue ter tanto apoio e mobilizar tantas pessoas num curto espaço de tempo”, principalmente alguém que “fazia parte dos círculos internos do regime”.

Numa altura em que se espera que o TISZA seja a segunda força mais votada, atrás do Fidesz, Péter Magyar diz em entrevista à Lusa que “as pessoas estão fartas desta elite política”.

“É por isso que eu e o meu partido somos tão populares e a popularidade está a crescer cada vez mais, porque as pessoas estão fartas destes tipos e gostariam de ter um sistema político completamente novo na Hungria”, afirma Péter Magyar.

Partidos da oposição ouvidos pela Lusa reconhecem que esta popularidade está a causar a “luta pela sobrevivência” dos outros partidos, segundo diz à Lusa Gábor Harangozó, do socialista MSZP.

O eurodeputado e presidente do partido de centro-direita Jobbik, Márton Gyöngyösi, corrobora que “todos os partidos da oposição estão em dificuldades”.

Também Márton Tompos, vice-presidente do liberal Momentum, admite que Péter Magyar está a “levar metade dos [seus] eleitores” por ser “insanamente popular”, enquanto János Árgyelán, do partido de extrema-direita A Nossa Pátria, estima uma redução entre 2% a 3% dos seus eleitores para este “novo messias”.

Pelos Verdes LMP, Örs Tetlák fala num “sintoma da frustração e da desilusão de centenas de milhares de eleitores húngaros”, mas diz que Péter Magyar “não faz nem diz nada de novo” e é “um oportunista”.

Se Ágnes Vadai, do socialista DK, desvaloriza e fala numa “fenómeno temporário”, Marietta Le do satírico Partido Húngaro do Cão de Duas Caudas refere que o seu partido é mais dedicado à cidadania e não à ação popular.