A ex-bancária, de 44 anos, é acusada de desviar 655 mil euros de contas de clientes, especialmente idosos e emigrantes, entre 2003 e 2010, altura em que houve rescisão unilateral do contrato de trabalho.
No início do julgamento, que a defesa quis que fosse à porta fechada, mas que a juíza presidente recusou, a arguida afirmou que "é tudo verdade" aquilo que está na acusação, confirmando de forma integral os factos imputados pelo Ministério Público, à exceção da participação do ex-marido no esquema.
Num discurso quase sempre a chorar e a soluçar, a ex-bancária explicou que os desvios serviam para alimentar a compra compulsiva de bens materiais.
"Tinha um empréstimo bancário de 200 mil euros, tinha cartões e todo o dinheiro gastava-o em compras", explicou, referindo que usava também o dinheiro dos clientes do BCP para pagar o empréstimo de forma que o ex-marido não se apercebesse dos gastos.
A arguida afirmou que passou a consumir muito álcool e que tinha várias crises (depois do sucedido foi-lhe diagnosticada a doença bipolar) e que se automedicava.
"Nunca me apercebi que precisava de ajuda", admitiu, acrescentando que sempre fez compras de forma compulsiva, mas que a situação foi-se agravando.
"A minha mãe é que tomava conta do meu filho, porque eu deixava tudo para trás para ir às compras. Não havia um dia em que não tivesse de ir a algum lado fazer compras", sublinhou.
Na acusação, é possível verificar que a suspeita dos desvios fazia levantamentos de 400 euros, por diversas vezes ao longo de três anos, e várias compras de centenas de euros em lojas de roupa, ourivesarias ou perfumarias.
"Ele [o ex-marido] não ligava a nada. Pode ser acusado de ser mau marido, de não prestar atenção, mas não se apercebia do que eu tinha e era eu que geria todas as contas da casa", frisou, referindo que chegava a esconder as compras para não dar nas vistas e que falsificou a assinatura do seu ex-marido.
Depois de sair do banco e ser detetado o esquema, a arguida esteve ainda "pior": Não dormia, o casal separou-se, viu a família alargada e amigos afastarem-se e o volume de despesas a aumentar - a prestação do crédito à habitação passou de 500 euros por mês para quase 900 euros.
"Fui vendendo tudo o que tinha para pagar as prestações para honrar os compromissos até que houve um dia que não tinha mais nada para vender", explanou, referindo que, neste momento, recebe o ordenado mínimo.
Também durante o início do julgamento, o ex-marido disse em tribunal aquilo que a arguida já tinha dito, que não sabia de nada.
"Eu quero tentar perceber como é que é possível não se aperceber de nada. As compras, as obras na casa, fizeram uma piscina, compraram carros e não se apercebeu de nada?", questionou a juíza.
O arguido sublinhou que trabalhava longas horas e que não geria o correio nem as contas correntes.
"Fui completamente apanhado de surpresa. Tinha muito orgulho nela", vincou, referindo que nunca pensou que o gosto pelas compras fosse algo "anormal", não tendo conhecimento dos valores que a antiga companheira gastava.
A arguida é acusada de um crime de falsidade informática, um crime de abuso de confiança qualificado, um crime de subtração de documento, um crime de falsificação de documento e um crime de branqueamento de capitais.
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