“Grande parte das nossas validações e investigações leva-nos a dizer que o uso do fogo está na base de muitas ignições de incêndios, ou seja, a necessidade de renovar pastagens e a necessidade de queimar sobrantes agrícolas ou florestais está na base [dos incêndios]”, disse o major Adriano Resende.
No decorrer do sexto curso de investigação das causas dos incêndios florestais, que decorre em Viseu pela primeira vez, sob a organização e execução do Comando Territorial de Viseu, o responsável explicou que “é fundamental perceber o que é que está no início do incêndio, para, mais tarde, com base nessa informação, estabelecerem-se prioridades de atuação, na ótica, acima de tudo, da prevenção”.
A GNR, em 2018, “adotou um dispositivo de patrulhamento e vigilância reforçado, com especial incidência nas áreas dos interfaces urbanos florestais, dada a sua maior vulnerabilidade e perigosidade, face à ocorrência de incêndios florestais”, refere o gabinete de comunicação da organização.
Assim, adiantou o tenente-coronel Hélder Barros, no período de 01 de janeiro a 13 de outubro, e no âmbito da Defesa da Floresta Contra Incêndios, “a GNR realizou 48.077 patrulhas, tendo registado 102 detidos pelo crime de incêndio florestal, mais 48 do que em igual período de 2017”.
Segundo os dados enviados à agência Lusa, “foram identificados 883 suspeitos de terem praticado o crime de incêndio florestal, mais 45 do que em igual período de 2017; registaram-se 6.213 crimes de incêndio florestal, menos 3.045 crimes do que em igual período do ano passado; e houve 12.736 ocorrências de incêndio florestal, menos 7.785 do que em igual período de 2017.
O mesmo documento revela que foram feitos 8.253 autos de contraordenação, mais 5.641 do que em igual período de 2017 e, ainda dados provisórios, foram calculados 43.959,79 hectares de área ardida, menos 443.002,84 hectares do que em igual período do ano transato.
O major Adriano Resende explicou à agência Lusa que a investigação das causas de incêndio é uma competência da Guarda Nacional Republicana e, nesse sentido, o objetivo é confirmar se na base dos incêndios estão as queimadas, “até como uma necessidade da sociedade das populações” para assim, acrescentou, se “trabalhar essa necessidade com o objetivo final de diminuir o número de ignições”.
Neste sentido, decorreram dois exercícios práticos em Viseu: um foi uma queimada, “devidamente licenciada e coordenada e com apoio, de modo a que os formandos pudessem visualizar o comportamento do fogo, como é que o fogo se comporta quando atinge determinados combustíveis e os vestígios que deixa, aqueles que serão por eles, em sede de validação, analisados e investigados”.
“Esta quarta-feira [hoje], vamos fazer o mesmo, embora separados em 10 locais, 10 talhões, porque vão constituir-se em 10 equipas e é para eles uma prova prática. Vão investigar aquele local e terão de nos dizer qual foi o ponto de início e qual foi a causa que iniciou aquele incêndio”, adiantou o major.
Este sexto curso, explicou o militar, tem como objetivo “dotar os formandos de conhecimentos técnicos e científicos na área da investigação criminal das causas dos incêndios em espaço rural, com especial ênfase na obtenção de meios de prova que, para além de identificar as causas dos incêndios, permita apurar os seus autores”.
Esta primeira “turma” conta com a participação de 50 militares da GNR e civis da carreira de Guarda-Florestal, que integram o Serviço de Proteção da Natureza e Ambiente (SEPNA) a nível nacional, mais quatro elementos da Guarda Civil de Seprona, Espanha, e outros quatro elementos dos Carabineiros do Chile.
A formação contempla 15 módulos teóricos e práticos de diferentes áreas pedagógicas, que abrangem desde legislação relacionada com incêndios florestais, o estudo das matérias combustíveis e a sua correlação com o comportamento e propagação do fogo, assim como, a identificação de vestígios e recolha de prova.
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