Em declarações aos jornalistas, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa foi por diversas vezes questionado se entende que há condições para um Governo estável e se considera necessário um entendimento alargado.

"O Presidente não é analista político e, portanto, não vai fazer análise política sobre o que se está a passar e o que se vai passar. E, portanto, aguarda que seja apresentado pelo primeiro-ministro indigitado o Governo para a sua nomeação e depois para a respetiva posse", respondeu o chefe de Estado.

Interrogado, depois, sobre os novos partidos com representação parlamentar, deu a mesma resposta: "O Presidente não faz análise. Não faz análise relativamente à composição do parlamento, não faz análise relativamente à formação do Governo".

"O Presidente o que pode dizer foi aquilo que disse logo a seguir à realização das eleições: Naquilo que depender do Presidente, naturalmente que tudo fará para que haja estabilidade, como fez na legislatura anterior", acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa argumentou que "um Presidente não pode estar a comentar a composição do parlamento", porque "há uma relação institucional entre o Presidente da República e a Assembleia da República, qualquer que seja a sua composição".

"Essa relação foi uma relação muito cooperante e harmoniosa na legislatura que chegou ao fim, e vai ser da parte do Presidente exatamente o mesmo na legislatura que está a começar", afirmou.

O chefe de Estado falava após uma conversa com o escritor Mia Couto sobre o seu livro "O universo num grão de areia", editado pela Caminho, em que se falou de temas como as fronteiras e as intolerâncias, numa sessão moderada pela jornalista Maria Flor Pedroso, diretora de informação da RTP.

A esse propósito, foi questionado em particular sobre a eleição de um deputado pelo Chega, um partido que, entre outras coisas, defende a saída imediata de Portugal do Pacto Global para as Migrações promovido pelas Nações Unidas, contra o "consenso nacional" que o chefe de Estado tem invocado sobre esta matéria.

"Não vou estar a comentar neste momento a composição do parlamento", repetiu Marcelo Rebelo de Sousa.

Sobre as reuniões que teve na terça-feira com os dez partidos com representação parlamentar tendo em vista a indigitação do primeiro-ministro, o Presidente da República disse que não comenta essas audiências e que "o que era importante era concluir relativamente à indigitação do primeiro-ministro", salientando: "Concluiu-se e concluiu-se no próprio dia".

"O senhor primeiro-ministro está indigitado e agora tem um tempo apreciável, por causa do processo de apuramento final dos resultados e da constituição e entrada em funcionamento da Assembleia da República, para a formação do Governo e para a proposta do Governo, para futura nomeação e tomada de posse", referiu, defendendo que não pode dizer "mais do que isto".

O chefe de Estado foi também questionado sobre a notícia de que o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, não tenciona assinar o diploma que atribui o Prémio Camões ao compositor e escritor Chico Buarque.

"Sei que eu assinei o diploma. Não tenho mais informação sobre isso", declarou Marcelo Rebelo de Sousa, acrescentando: "Se não levam a mal, tenho de verificar exatamente o que se passou".

Antes, na conversa com Mia Couto, o Presidente da República recebeu um elogio do escritor moçambicano, que o considerou "uma pessoa muito especial em todo o mundo", de quem "Portugal deve ter uma grande vaidade", assinalando o facto de "se dedicar assim desta assim desta maneira tão generosa à cultura, à arte, ao livro".

Quando tomou a palavra, Marcelo Rebelo de Sousa relatou que leu a coletânea de textos "O universo num grão de areia" entre "a Assembleia Geral das Nações Unidas, que é um bom sítio para ler, nos intervalos daquelas cimeiras" e "a parte final da campanha eleitoral e o apuramento dos resultados".

"Portanto, não pode ser mais fascinante o contexto", comentou, provocando alguns risos.

O Presidente da República elogiou a forma como o escritor abordou temas como a globalização e as fronteiras, destacando uma frase em especial: "Há quem tenha medo que o medo acabe".

"É isso mesmo. O medo que está a alimentar tantos pontos do mundo e que dá tanto jeito àqueles que gostam de criar, explorar, instrumentalizar esses medos. E têm medo que esse medo acabe", concordou.