Entre os efeitos da doença e os abates, mais de 140 milhões de aves morreram desde outubro de 2021 devido à gripe aviária, refere o The Guardian, segundo números da Organização Mundial da Saúde Animal. O número total inclui quase 48 milhões de aves na Europa e pouco mais de 53 milhões nos EUA.
E não há previsões de abrandamento. Christine Middlemiss, veterinária no Reino Unido, explica que "estamos a assistir a um número crescente de casos de gripe das aves". "Esperamos que o número de casos continue a aumentar ao longo dos próximos meses", frisou.
Arjan Stegeman, professor de medicina veterinária e epidemiologista na Universidade de Utrecht, na Holanda, é da mesma opinião — e receia que a próxima vaga de gripe aviária possa voltar a ser grave, sugerindo que o abate continue. Contudo, "se uma indústria só pode permanecer através do abate de milhões de animais, não é sustentável", recorda.
Até agora, a proteção das aves de capoeira, mantendo-as no interior, e o abate de bandos doentes são os principais métodos de controlo da gripe aviária. O jornal britânico contactou os governos dos EUA, do Reino Unido e a UE para questionar quanto à "aceitabilidade ou moralidade do abate em massa como instrumento de gestão da doença", mas não obteve respostas.
Para muitos, este método é errado. Dan Crossley, diretor executivo do Conselho de Ética Alimentar do Reino Unido, deixa essa opinião bem clara. "Está a tornar-se quase normalizado agora que milhões de aves estão a ser abatidas, o que é claramente errado", disse.
Também Stegeman frisa que a escala atual do abate é "pouco ética", mas acaba por ser inevitável já que a gripe aviária "é realmente letal para os bandos e 99% vão morrer de qualquer forma".
O abate, no entanto, não irá parar o vírus, defende. "Há vinte anos, o abate para a gripe aviária era aceitável porque era raro e fazia sentido abater aves porque também se parou o vírus. Agora temos a doença em aves selvagens e o abate não vai ajudar a parar a propagação do vírus",
"Este é um problema de origem humana que surgiu no sudeste asiático porque o vírus da gripe aviária H5N1 não foi devidamente controlado. Começou em 1996 na China, onde o pato e as aves se expandiram rapidamente, e depois alastrou às aves selvagens", recorda.
Para já, sabe-se que estão atualmente em curso na Europa ensaios de vacinação de aves comerciais, mas ainda não existem acordos internacionais sobre a sua utilização. Nesse sentido, a Comissão Europeia afirmou ter solicitado à Autoridade Europeia de Segurança Alimentar um novo parecer científico sobre a vacinação contra a gripe das aves, que deverá estar disponível após o verão de 2023.
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