O protocolo de colaboração para a realização das exposições foi hoje assinado, em Lisboa, na sede da Fundação Calouste Gulbenkian, pela ministra da Cultura, Graça Fonseca, e a presidente da instituição, Isabel Mota, na presença de deputados, artistas e embaixadores.
A exposição em torno das mulheres artistas portuguesas vai acontecer por ocasião da Presidência Portuguesa da União Europeia, e será apresentada no centro de artes Bozar, em Bruxelas, no primeiro semestre de 2021, e seguirá, no segundo semestre, para o Centro de Criação Contemporânea Olivier Debré, na cidade francesa de Tours, no âmbito da “Temporada Cruzada Portugal-França”.
Isabel Mota, presidente da Gulbenkian, sublinhou, no seu discurso, que aceitou o desafio lançado pela ministra da Cultura porque “está em sintonia” com alguns dos objetivos da política cultural da fundação, nomeadamente a promoção, tanto da cultura e da arte portuguesa a nível internacional, como a paridade de género.
A presidente apontou que o projeto – que será comissariado pela historiadora de Arte e curadora Helena de Freitas – vai mostrar “uma vontade de reconhecer que há um espaço de criação, que pertence a estas artistas, que nem sempre teve o reconhecimento merecido”.
As artistas portuguesas “constituem um caso singular de alcance internacional, em particular no confronto com o percurso dos artistas masculinos da mesma geração, na segunda metade do século XX”, acrescentou.
“Este projeto serve também para tentar compreender as razões pelas quais um número surpreendente de mulheres artistas vingou internacionalmente, quando o contexto social, político e económico não favorecia, em geral, tal visibilidade da criação artística portuguesa”, disse a presidente de Gulbenkian.
A exposição intitula-se “Artistas Mulheres em Portugal – De 1900 aos nossos dias”, e terá curadoria e coordenação científica da historiadora de Arte Helena de Freitas, conservadora do Museu Calouste Gulbenkian, que, por seu turno, escolheu o curador Bruno Marchand para a acompanhar neste projeto.
A partir de fevereiro de 2021, as obras de mulheres artistas portuguesas vão estar expostas em Bruxelas, no Bozar, “um dos centros de arte mais importantes da Europa”, projetado pelo arquiteto belga Victor Horta, um dos pioneiros da Arte Nova, e que “garante a visibilidade e notoriedade internacional deste projeto singular”.
Em outubro de 2021, a exposição será também apresentada em França, no Centre de Création Contemporaine Olivier Debré, em Tours, integrada no programa geral da Saison Culturelle France-Portugal, e, em 2022, deverá ser apresentada em Portugal, num local ainda a indicar.
“Com a escolha deste equipamento cultural pretendemos aliar a apresentação da exposição a um notável espaço arquitetónico, concebido pela dupla portuguesa Francisco e Manuel Aires Mateus”, salientou Isabel Mota.
Este projeto juntará no mesmo espaço artistas portuguesas de referência, como Maria Helena Vieira da Silva, Lourdes Castro, Paula Rego, Ana Vieira, Maria Lamas, Graça Morais, Salette Tavares, Helena Almeida, Joana Vasconcelos, Maria José Oliveira, Ana Jotta e Leonor Antunes, entre várias outras.
A exposição será desenvolvida a partir de obras escolhidas destas artistas, “dando particular atenção a aspetos mais reservados e mesmo inéditos de algumas delas”, revelou.
A seleção será feita a partir de coleções públicas, mas também de coleções particulares e de acervos das artistas, compreendendo obras em suportes distintos como a pintura, a escultura, o desenho, o objeto, o livro, a instalação, o filme, o vídeo e o áudio.
“Colmatar o défice de representação de artistas mulheres — bem como de outras minorias — tem sido aposta do Museu Gulbenkain, nos seus vários planos de atuação”, apontou, referindo a coleção permanente, as exposições temporárias, as aquisições e as atividades educativas”.
Nesta linha, a presidente da Gulbenkian revelou que está também a ser organizada uma extensa e importante exposição a ser apresentada em 2021, primeiro no Museu Calouste Gulbenkian, na primavera, e, depois, no inverno, no Instituto de Valência de Arte Moderna (IVAM), em Espanha.
Esta exposição, “sobre um período mais limitado no tempo, e com um foco em Portugal, mas igualmente em Espanha”, terá como título “Mulheres Artistas, ditadura e transição para a democracia: o caso de Portugal e Espanha entre 1965 e 1980″.
Por seu turno, na cerimónia, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, salientou, na sua intervenção, que, com este protocolo, a tutela começa a preparar, a partir de hoje, a programação cultural que acompanhará a Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, no primeiro semestre de 2021, bem como o projeto da Temporada Cruzada Portugal-França 2021/22.
“Estes dois momentos serão centrais para a cultura portuguesa e, muito em particular, uma oportunidade única para promover a internacionalização da arte e artistas nacionais”, comentou a ministra.
Graça Fonseca disse ainda que este projeto pretende ser um contributo “para o aprofundamento do projeto europeu e para o reforço de valores centrais à Europa, como a igualdade de género”.
“O talento no feminino preencheu e continua a preencher com nomes e valorosas obras a nosso panorama artístico. Numa narrativa de séculos que pertenceu quase exclusivamente aos homens, nunca deixou de haver mulheres que construíram com a sua imaginação e arte, a identidade cultural portuguesa”, acrescentou.
Graça Fonseca citou, como exemplo, a artista Sarah Affonso (1899—1983), que não gostava quando as pessoas lhe diziam que a pintura da artista era “igual” à do marido, Almada Negreiros, e que ficava mesmo ofendida.
“Sobretudo porque ele [Almada] tem um grande nome. E isso foi das coisas que me fez parar”, recordou a ministra, citando a artista, como um exemplo de muitas mulheres que não prosseguiram a sua arte por motivos semelhantes.
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