O número de pessoas viciadas em raspadinhas a pedir ajuda a instituições que tratam comportamentos aditivos está a aumentar de forma exponencial, noticia o Jornal de Notícias. A maioria dos pedidos é feito junto de hospitais e Centros de Apoio a Toxicodependentes (CAT), mas as clínicas privadas também confirmam um crescimento de internamentos.
Um estudo realizado há um ano indicava que, em média, cada português gasta 160 euros por ano em raspadinhas, dez vezes mais do que em Espanha. No estudo, os investigadores alertavam para "o aumento brutal do dinheiro investido neste jogo em Portugal e para as características que favorecem o estabelecimento de comportamentos de jogo problemático ou patológico".
Segundo Alexandre Inverno, da clínica Linha d’água, citado pela publicação, cerca de 40% dos seus pacientes são "jogadores sem ser de casino físico, uma grande parte de raspadinhas", referindo ainda que, em termos percentuais, estão "equiparados aos alcoólicos".
A perceção no setor público é a mesma. Sofia Pinto, psiquiatra responsável pela Unidade de Psiquiatria Comunitária do Centro Hospitalar Universitário do Porto, refere que a “prevalência tem vindo a subir muitíssimo” e alerta que "estamos a deixar passar o fenómeno sem intervir muito sobre ele, o que é preocupante”. A psiquiatra explica que este vício "afeta muito a população mais vulnerável", por estar presente em vários locais e não ser um jogo caro, e conta que “há casos sinalizados entre beneficiários do RSI porque as pessoas acabam por ficar depauperadas de recursos por causa deste tipo de jogo e são referenciados pela Segurança Social para tratamento".
Emídio Abrantes, coordenador do Centro de Respostas Integradas de Aveiro, do qual faz parte o CAT local, reitera um “aumento da procura” de ajuda, principalmente nos últimos dois anos e reporta casos que chegam através da família e até pelo médico de família.
O Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) propôs ao Governo que o internamento de pessoas com problemas relacionados com o jogo passasse a ter um financiamento público, tal como ocorre com os internamentos associados ao álcool e drogas.
Atualmente, o internamento é feito com recurso a comunidades terapêuticas privadas, o que o torna inacessível a grande parte dos viciados em raspadinhas, porque já não têm dinheiro para o tratamento.
Segundo a publicação, em 2019, 51,1% das vendas da Santa Casas da Misericórdia de Lisboa (SCML) vieram da raspadinha (1718 milhões de euros) e que as receitas dos jogos sociais foram de 3360 milhões de euros.
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