O macho Sismo e a fêmea Senegal foram hoje libertados numa zona serrana entre as localidades de Farelos e Giões, em Alcoutim, elevando para cerca de 200 o número de animais já libertados em Portugal, onde chegou a estar em vias de extinção pela degradação do habitat e pela falta de fontes de alimentação, destacou o secretário de Estado da Conservação da Natureza, Paulo Catarino.
“É um projeto interessantíssimo e é um bom exemplo - num dia em que estamos em guerra - de cooperação transfronteiriça entre Portugal e Espanha, cooperação que nasceu precisamente dessa união na investigação que se tem vindo a fazer e que levou a que uma espécie que estava praticamente em vias de extinção seja hoje uma espécie salva”, afirmou Paulo Catarino.
O governante frisou que os animais libertados contribuem para “aumentar a biodiversidade” e beneficiam da alimentação e do apoio de caçadores e entidades gestoras de áreas de caça, que gerem os territórios onde as comunidades de linces de encontram e proporcionam condições para disporem da sua principal fonte de alimento, o coelho.
Esta parceria com os caçadores, as entidades de caça e as populações das zonas de libertação está, segundo o secretário de Estado, “bem patente nos resultados” obtidos “no Alentejo e agora no Algarve também”.
“O importante nesta reintrodução do lince em Portugal é que as populações e os proprietários sintam estes animais como fazendo parte de um ecossistema mais completo, mais equilibrado, e é isso que tem sido o grande sucesso desta reintrodução”, afirmou, destacando a população de quase duas centenas de indivíduos só em Portugal e mais de mil na Península Ibérica.
Nuno Banza, presidente do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), sublinhou que a libertação destes linces “alarga pela primeira vez a área em Portugal” e dá “um sinal muito importante” de que a estratégia seguida para introduzir os animais em liberdade é válida.
A mesma fonte recordou que o lince “já antes ocupou o território” e “perdeu a capacidade de sobreviver neste território”, porque a sobrevivência “está muito suportada na fonte de alimentação”, mas o alargamento da área de reintrodução ao Algarve dá um “indicador de que o habitat tem maior qualidade e maior capacidade de suportar a existência da espécie”
“Se conseguirmos fazer parcerias locais com cidadãos, agricultores, caçadores, autarquias e habitantes deste território onde ocorre o lince, podemos criar condições para que aquilo que no passado fez com que o lince desaparecesse, fosse caçado furtivamente ou que visse o seu habitat destruído, desta vez não aconteça”, considerou.
Nuno Banza anunciou que o objetivo do projeto ibérico de recuperação do lince-ibérico é chegar ao “reequilíbrio do ecossistema” para “deixar de haver uma necessidade de reintrodução permanente”, com a criação de uma “comunidade de animais que seja sustentável e viável do ponto de vista genético”.
Quando isso for possível, explicou, o projeto passará a “apenas recuperar animais que possam ser magoados em atropelamentos ou armadilhas ou que possam ter algum problema de saúde”, passando os centros “a ter mais trabalho de recuperação e apoio à existência da comunidade do que propriamente de reintroduções”.
“O que procuramos é ter uma comunidade saudável e sustentável que possa ir sendo alargada e que ocupe a verdadeira função do lince, que acaba por caçar os coelhos mais frágeis, mais doentes, e acaba por ter uma função de regulação ecológica do sistema”, acrescentou.
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