“Neste Dia de Portugal, aproveitamos o foco desta celebração para, na presença do Governo e representantes da oposição, apelar a um compromisso sério com estes territórios de baixa densidade”, afirmou Rui Rosinha, em Pedrógão Grande, na cerimónia militar comemorativa do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

"Apelamos a um compromisso sério com esta comunidade e não apenas a medidas em papel", afirmou depois de enumerar as dificuldades que novos e velhos enfrentam no interior do país, nomeadamente nos concelhos que foram afetados pelos incêndios de 2017.

Perante o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, membros do seu Governo e representantes de partidos na oposição, Rui Rosinha pediu uma “séria e verdadeira coesão territorial, social e estrutural, e não apenas medidas em papel sem concretização efetiva”.

"Aspiro por um Portugal que todos os cidadão possam viver com dignidade, segurança, esperança e sem discriminação", rematou, evocando "a memória daqueles que perderam a vcida em 17 de junho de 2017", lembrando que "em sua homenagem devemos continuar a batalhar por um país melhor e mais resiliente".

Rui Rosinha foi convidado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para discursar nas celebrações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, este ano centradas em Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, os concelhos mais afetados pelos incêndios de junho de 2017, que provocaram 66 mortos e 253 feridos, além da destruição de casas, empresas e floresta.

Rui Rosinha era chefe de uma viatura dos Bombeiros Voluntários de Castanheira de Pera mobilizada para estes fogos e na qual seguiam mais quatro bombeiros. Um deles - Gonçalo Conceição - morreu.

No discurso, o bombeiro, que pertence ao quadro de honra da corporação, recordou os fogos, lembrando os mortos – especialmente o colega Gonçalo Conceição - e os feridos, para sublinhar que as cicatrizes “são profundas e irreparáveis”.

“A tragédia expôs muitas das nossas vulnerabilidades, mas também destacou a nossa união e resiliência como nação”, assinalou, referindo que “a região afetada mostrou ao mundo a força da solidariedade portuguesa”, sem esquecer a ajuda de comunidades estrangeiras.

Contudo, Rui Rosinha, que fez a intervenção numa cadeira de rodas, considerou que “pouco chegou ao território”, e “a burocracia é pesada e demorada”.

“O caminho para a recuperação tem sido bastante difícil”, admitiu, defendendo que se deve “pugnar para que a região afetada não apenas se recupere, mas se fortaleça, com infraestruturas mais seguras, serviços de emergência mais musculados e políticas ambientais e florestais que previnam futuras tragédias, já que as alterações climáticas são uma realidade diária”.

Para o bombeiro, “é essencial investir em atividades económicas sustentáveis que garantam um futuro próspero e, principalmente, digno para os habitantes da região”.

Depois, Rui Rosinha apontou os “problemas estruturantes” com os quais se defronta quem vive, deseja estabelecer-se, investir ou fazer turismo nestes concelhos do norte do distrito de Leiria.

Falta de médicos, pouca oferta de transportes públicos, a “via extremamente perigosa” que é o Itinerário Complementar 8 na região, falhas nas telecomunicações, ofertas limitadas na educação ou a ausência de empregos são os exemplos que apontou.

“Apesar de todos estes problemas e dificuldades que poderiam, facilmente, nos levar a desistir e abandonar esta região, continuamos aqui, resistindo estoicamente e com grande determinação para transformar este território, tornando-o mais atraente, justo, seguro e, sobretudo, coeso”, continuou Rui Rosinha.

O bombeiro, que se definiu como otimista, disse ainda aspirar “por um Portugal onde todos os cidadãos, independentemente do seu local de residência, possam viver com dignidade, segurança, esperança e sem discriminação negativa”.

“Que todos os portugueses, tanto os que vivem em Portugal quanto os da diáspora, aprendam com o passado, se unam no presente e trabalhem juntos por um futuro onde a segurança, a prosperidade e o bem-estar sejam uma realidade para todos”, adiantou.

Para Rui Rosinha, a homenagem às vítimas mortais da tragédia de Pedrógão Grande passa por se “continuar a lutar por um país mais forte e resiliente”.

“Que o espírito de solidariedade, união e justiça nos guie rumo a um futuro melhor para todos”, acrescentou o bombeiro, terminando com “Viva Portugal”.

Na sequência dos ferimentos, Rui Rosinha esteve hospitalizado seis meses (dos quais dois meses e meio em coma), regressando a casa a meio de dezembro desse ano. Já foi submetido a mais de 30 cirurgias e está aposentado.

Rui Rosinha, de 46 anos, casado e com dois filhos, era funcionário da Câmara de Castanheira de Pera e integra o quadro de honra da corporação deste concelho.