De que é que desistimos? A pergunta caiu-me no colo ontem durante um jogo com amigos - não querendo deixar ninguém frustrado por trazer ideias nesta altura do campeonato em que as prendas à partida já foram todas entregues, fica o nome do jogo para quem estiver interessado: "Hot Seat".

Não será caso agora de estar a explicar as regras em detalhe, mas fica a ideia geral de que uma pessoa - no “hot seat” (ou, se quisermos, naquilo que em português às vezes chamamos “na berlinda”) - escolhe uma pergunta tirada de um monte de cartas e todos têm de responder, tentando dar a mesma resposta que a “pessoa na berlinda” dá.

Ora calhou-me a dado momento a seguinte pergunta: “De que é que eu já desisti?”. A resposta não foi fácil. Acabei até por demorar mais tempo a responder do que os meus amigos.

Independentemente da minha resposta de ontem - que acabou por ser francamente pouco interessante (embora o jogo tenha sido bem divertido) -, sirvo-me deste momento e da força do verbo "desistir" para fazer a ponte para duas histórias que gostava de destacar hoje.

1. Quando quase se desiste de estudar em jovem e se chega aos 87 anos com uma vida cheia de histórias para contar.

Conheceu sete Papas, privou com alguns deles, Cavaco Silva pediu-lhe ajuda para combater a droga em Portugal, esteve à beira da morte e dois dias depois estava a apresentar um livro, foi um excelente guarda-redes… Tudo isto cabe numa só pessoa, num padre! Vítor Feytor Pinto foi entrevistado pela Isabel Tavares e a conversa vai da falta de coerência de que a Igreja é acusada aos exorcismos. Para ler aqui - e não dá vontade de desistir a meio.

2. Subir às nuvens para resistir à doença

“Será um rato? Não, desapareceu... Será um pinguim ou será um macaco? Agora vou fazer magia... uma cobra. Não gosto de cobras, afinal era um elefante”. Não, não estamos a falar de um jardim zoológico. Bem pelo contrário: o espaço onde estas frases foram ditas não é de liberdade para as crianças que lá se encontram. Trata-se da ala pediátrica do Hospital de Cascais. É lá que se sobe às nuvens todos os dias. Um grupo de voluntárias vai durante a noite contar histórias às crianças que ali estão internadas. A iniciativa é da associação “Nuvem Vitória” e o Miguel Morgado acompanhou uma das visitas. Aqui fica a reportagem para entrar neste mundo que mistura a doçura do imaginário com a dureza da doença infantil.

Histórias de resistência, a dois dias do fim do ano. Persistamos até lá e continuemos a caminhada daí em diante - de preferência, agasalhados por agora, porque a noite da Passagem de Ano chega sem chuva, mas com mais frio.

E já que estamos neste tema, ficam duas sugestões: em Lisboa, os festejos de fim de ano começaram hoje e amanhã o Terreiro do Paço recebe às 21h30 o concerto de José Cid, vencedor este ano do Grammy de Excelência Musical; no Porto, há palcos alternativos com DJ na Praça dos Poveiros e no Largo Amor de Perdição, nas noites de 29, 30 e 31.

O meu nome é Margarida Alpuim e, com escolhas mas sem desistências, hoje o dia foi assim.