“A lista de espera é constante e temos recebido, por mês, cerca de 500 pedidos de consultas de psicologia para crianças, jovens e adultos, o que é muito significativo”, contou à Lusa o médico.
A resposta dada às crianças, jovens e adultos tem vindo a aumentar e o “tempo de espera ronda no máximo entre três a quatro meses” para a consulta, adiantou Eduardo Carqueja.
O Serviço de Psicologia do hospital de São João, que conta atualmente com 30 profissionais, divide-se em três unidades: unidade do adulto e do idoso, unidade de neuropsicologia e unidade da infância e da adolescência.
Até outubro, aquele serviço contava com uma lista de espera de 1.300 pessoas, número que só foi ultrapassado em 2020, ano marcado pela pandemia da covid-19 e quando 1.700 pessoas aguardavam por consulta.
Este ano, naquela unidade hospitalar foram, até outubro, realizadas 17.600 consultas de psicologia em jovens e adultos.
Já a área da pedopsiquiatria registou também até outubro um aumento de 350 consultas, comparativamente a igual período de 2020, ano em que foram contabilizadas 400.
Eduardo Carqueja acredita que, este ano, na unidade da infância e da adolescência, o número de consultas “vai ultrapassar as 800 seguramente”.
Questionado se o número de consultas reflete ainda o impacto da covid-19, em particular nos jovens portugueses, o médico acredita que a pandemia afetou “sem dúvida” os dados relativos a este ano.
Segundo o especialista, os jovens não têm mais perturbações mentais, mas estão “mais disponíveis” para pedir antecipadamente ajuda, quando comparado com o período anterior à pandemia.
“O estigma hoje não é ir ao psicólogo, é os jovens não terem acessibilidade às consultas, porque eles querem, pedem a consulta ao médico de família e esperam meio ano, ou então não conseguem e têm que ir para o [serviço de saúde] privado, com tudo o que isso acarreta de custos”, explicou.
Para Eduardo Carqueja, a solução para apoiar a saúde mental dos jovens passa pela “contratação de mais recursos”, mas não sem haver uma “reorganização das áreas, sobretudo na psicologia”.
“É fundamental haver uma estrutura organizada que possa servir como o modelo organizativo de referenciação para os cuidados de saúde primários e para os cuidados de saúde hospitalar”, afirmou, identificando ainda como uma questão “muito crítica” a não atualização dos salários que, acredita, “está a fazer com que os psicólogos saiam do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.
“É crítico não haver uma carreira implementada que reconheça o trabalho dos psicólogos”, acrescentou.
Em 2019, o Serviço de Psicologia do hospital de São João registou um total de 15.700 consultas, número que aumentou nos anos marcados pela pandemia, com 2020 a registar 17.200 pacientes atendidos e, em 2021, 19.000.
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