O Hospital de Bragança é o único em Trás-os-Montes que oferece aos doentes a possibilidade de serem tratados em casa, mediante determinadas doenças e se reunirem as condições necessárias, nomeadamente a existência de cuidadores.
Este conceito de hospital em casa permite aos doentes “uma convalescença muito mais rápida”, assegurou à Lusa a médica responsável pela equipa, Cármen Valdivieso, concretizando: “se no internamento um processo leva, por exemplo, sete dias, em casa é cinco, ou se leva 15 dias, em casa são 12, porque recuperam muito melhor”.
A hospitalização domiciliária surgiu em Portugal em 2015, com a primeira experiência no Hospital Garcia de Orta (Almada), e atualmente estão em funcionamento por todo o país 19 das 23 unidades contratualizadas com o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
A unidade de Bragança começou a funcionar em julho com capacidade para assistir cinco casos (camas) em simultâneo, com uma equipa de médicos e enfermeiros a levaram o hospital a casa dos doentes, incluindo disponibilização de equipamento e medicação.
“Tem a mesma equiparação que no hospital, mas a convalescença é muito mais favorável no próprio domicílio porque estão no seu ambiente familiar e recebem todos os mimos, quer do hospital, quer da própria família”, reiterou a médica.
Quando o pai de 87 anos deu entrada na urgência do Hospital de Bragança e lhe propuseram esta modalidade, a reação de Ivone Calado foi: “isso é possível?”, como contou à Lusa durante uma visita da equipa.
Tanto ela como a mãe, Ana Gonçalves, desconheciam esta modalidade que aplaudem.
“O que nos fez aceitar foi a explicação de todos os procedimentos, o facto de sabermos que a qualquer instante podemos contactar por uma linha direta. Sentimo-nos seguros”, afirmou Ivone.
Outro facto que pesou foi a família estar habituada a estar junta e o pai quando se vê sozinho descompensar, pelo que adaptaram de imediato uma divisão da casa para tratar a infeção urinária que levou ao internamento do idoso semi-acamado.
“Sinto-me mais segura do que no hospital porque o vejo”, enfatizou a filha, enquanto partilha com a equipa informações e são feitos os procedimentos necessários ao doente.
Na manhã em que a Lusa acompanhou a equipa, a médica Cármen e o enfermeiro Miguel Borges visitaram três doentes, entre eles Gustavo Vaz, de 38 anos, surpreendido por uma pneumonia que há duas semanas lhe leva o hospital a casa.
Depois de vários dias de sintomas, a custo, a mulher Ivone Silva conseguiu levá-lo à urgência do hospital de Bragança onde lhe foi feito o diagnóstico e proposto o tratamento em casa que, inicialmente, lhe pareceu “estranho”.
Nas situações como a do marido, em que o doente é autónomo, Ivone acha “muito bem” esta solução e refere-se à equipa como “incansáveis”.
Esta solução não é para todos os doentes, como sublinhou a médica Cármen, mas apenas para aqueles que têm os critérios adequados, já que um doente em estado grave não pode ir nunca para o domicílio.
A hospitalização domiciliária é proposta a doenças relacionadas com infeções, respiratórias ou outras mais leves e sempre com a condição de que o doente tem autonomia ou acompanhamento de cuidadores.
As visitas da equipa hospitalar são diárias, pela manhã com médica e enfermeiro e à tarde e noite com enfermeiro.
Se acontecer algo entre visitas, a família e o doente têm um contacto telefónico direto e, nos casos em que a equipa entenda necessário, pode ser pedida a intervenção de outras especialidades médicas como acontece no hospital.
O enfermeiro Miguel Borges realçou a vantagem, sobretudo para os idosos, desta modalidade que evita os típicos processos de confusão e desorientação quando são tirados do ambiente a que estão habituados e internados em meio hospitalar.
Ainda assim, entre os 34 doentes que acompanharam até agora em casa, a maioria está abaixo dos 60 anos.
Entre os doentes internados no hospital há mais casos que poderiam reunir os critérios para domicílio, mas falta um fator essencial.
“Nos idosos falta o cuidador, muitos dos casos que nós propormos para internamento, muitas das vezes é o cuidador que não tem condições durante parte do dia, porque as pessoas trabalham”, indicou o enfermeiro.
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