O local da praça, agora denominada de “Praça da Circum-Navegação”, não foi escolhido ao acaso, estando localizada em frente à Baía de Guanabara, um dos primeiros locais onde Fernão de Magalhães aportou há 500 anos na América, aquando da sua histórica viagem ao serviço da coroa espanhola, e onde o navio-escola “Sagres” atracou na segunda-feira, após ter saído de Portugal em 05 de janeiro, para também ele seguir as pisadas do navegador português.
“Mais do que ser direcionada a Portugal, esta placa é direcionada ao navegador português e à circum-navegação. Tínhamos o plano de dar o nome de Fernão de Magalhães a uma praça ou escola, mas não foi possível designar dessa forma porque já existe uma artéria aqui com esse nome. Dessa forma, decidimos chamá-la de ‘circum-navegação’, mas na placa está descrita a homenagem a Magalhães”, disse à Lusa o cônsul-geral de Portugal no Rio de Janeiro, Jaime Leitão.
“É também um momento interessante porque foi feito simultaneamente à estadia da ‘Sagres’ no Rio de Janeiro, que está aqui mesmo em frente. Quando propus este lugar, achei também graça ao facto de a praça estar ao lado de uma roda-gigante [Rio Star, maior roda-gigante da América Latina], numa alusão à circum-navegação, também ela redonda”, acrescentou Jaime Leitão, impulsionador do projeto.
Na cerimónia de homenagem, sob forte chuva, estiveram também presentes figuras como a secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes, o embaixador de Portugal em Brasília, Jorge Cabral, ou a prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella.
Ao som da banda da Marinha de Guerra Portuguesa, que tocou os hinos do Portugal e do Brasil, foi feita a homenagem ao navegador português, tendo o prefeito Crivella declamado versos do poeta Fernando Pessoa, num elogio à “bravura” dos portugueses, quando descobriram o território brasileiro.
“Nós não podemos deixar de proclamar que na origem do povo brasileiro existe a fibra de uma nação que não se conformou com a determinação geográfica de viver entre a Espanha e o mar e, na força dos seus navegadores, cruzou os abismos para construir novos mundos. O Brasil é herança dessa valentia e bravura. No nosso sangue pulsam as mais altas tradições desse povo heroico que marcou a história”, indicou Crivella.
“Ao inaugurarmos esta praça, vibram na nossa alma essas conquistas lusitanas. Apesar da independência nunca nos desunimos. O Brasil estará eternamente ligado a Portugal. Lembro-me dos versos de Fernando Pessoas que dizia ‘Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal’, e o Rio de Janeiro fez muitas lágrimas para que aqui chegassem os navegadores, como foi esse, que hoje homenageamos. Agradeço poder marcar estes laços eternos, aqui”, declarou o prefeito na inauguração da praça.
Também Berta Nunes sublinhou a importância do esforço dos navegadores portugueses, como Fernão de Magalhães ou Pedro Álvares Cabral, reconhecendo “algumas menos valias” e “percalços” do período dos descobrimentos.
“Com o navio-escola Sagres e com o descerramento desta placa, a circum-navegação, Fernão de Magalhães e [o navegador espanhol] Sebastião de Elcano ficam aqui imortalizados para memória futura, sendo muito importante este ato simbólico, que irá preservar esta memória. Foi também Portugal que há 500 anos conseguiu globalizar o mundo no sentido de ligar territórios e culturas desconhecidas”, afirmou a secretária de Estado em declarações à Lusa.
O embaixador Jorge Cabral admitiu que a programação que Portugal tem delineada para celebrar os 500 anos da viagem de Circum-navegação é “ambiciosa”, afirmando que a inauguração de uma rua ou praça em nome do navegador português foi sempre um objetivo primordial.
“Esta placa é uma referência que vai aqui ficar registada. Sempre tivemos a expectativa de conseguir concretizar este objetivo, aqui, perto da Baía de Guanabara, onde a frota de Magalhães aportou na América. A nossa programação é ambiciosa, passando por todos os países que fizeram parte da rota do navegador. No caso do Brasil, em que temos esta proximidade histórica, é muito importante este registo físico da chegada da frota”, realçou o diplomata.
No âmbito das referidas celebrações, o navio-escola “Sagres” chegou na segunda-feira ao Rio de Janeiro através das águas da baía de Guanabara, reentrância costeira que deu nome à embarcação quando esta pertencia à Marinha do Brasil, após mais de um mês a navegar à vela, depois de ter saído de Portugal no dia 05 de janeiro para uma viagem de circum-navegação.
A viagem vai prolongar-se durante 371 dias, sendo que a próxima paragem é Montevidéu, capital do Uruguai.
O navio-escola “Sagres” vai passar por mais de 20 portos de 19 países diferentes.
Em 30 de dezembro, a embarcação da Marinha chega a Portugal, mais precisamente, a Ponta Delgada, nos Açores, estando o regresso a Lisboa agendado para 10 de janeiro de 2021.
Comentários