A pouco menos de 200 metros da praia, a paisagem marcada pela terra negra e pinheiros queimados de pé vai sendo substituída pelo verde das árvores que resistiram, no domingo e na segunda-feira, os dois dias em que aquele espaço teve de ser evacuado devido ao incêndio que deflagrou em Vila de Rei (Castelo Branco) no sábado e que atingiu Mação (Santarém).
Naquela praia, parece um dia normal, com famílias de toalhas estendidas na relva e na areia, a apanhar sol, a usar o bar de apoio ou a dar uns mergulhos na água límpida e cristalina, que ao início da tarde de hoje fazia as delícias dos mais novos.
No entanto, Armindo Dias, que dá apoio à manutenção do espaço, faz notar que, apesar de umas dezenas de pessoas a frequentar a praia, esta está longe de ter a ocupação normal para esta altura.
"Durante a semana, chegamos a ter 300 a 400 pessoas e, ao fim de semana, chegam às 1.500", vinca o habitante de Cardigos, freguesia de Mação, que, mesmo assim, mostra-se feliz por ver as pessoas a regressarem à praia.
Para Armindo Dias, aquela praia e zona circundante "são um oásis e é bom que assim se mantenham".
"Este é um dos poucos pontos verdes na região de Mação, se não o único. O resto ficou tudo queimado", conta, esperando que tudo regresse à normalidade naquela praia, confiante no papel das redes sociais na partilha de imagens e vídeos do estado atual do espaço.
Isabel Farinha, da Sertã, foi com os dois filhos, de cinco e seis anos, até à Praia de Cardigos, e ficou "surpreendida" com o cenário todo verde na envolvente do local.
"Graças a Deus que ficou este bocadinho verde", diz a visitante, de 38 anos, que, apesar de algum descanso depois do incêndio ter sido dado como dominado na terça-feira, mostra-se preocupada com o vento e calor que ainda se fazem sentir na região.
"O mal está feito. Agora é preciso voltar para dinamizar o comércio, porque se não são afetados duplamente, pelos fogos e pela falta de pessoas", realça Nuno Martins, a viver em Lisboa mas com casa na região e que decidiu voltar à Praia do Bostelim, no concelho de Vila de Rei, que também resistiu às chamas.
Outro visitante, a morar em Cascais, decidiu no sábado, "mais ou menos à hora do incêndio", que iria passar as férias com os seus dois filhos por Vila de Rei.
No Parque de Campismo anexo à praia, este residente de Cascais é dos poucos ocupantes, mas sublinha que, apesar de uma envolvente enegrecida, ainda há muita paisagem "bonita" na região e que espera aproveitar os próximos dias para descobrir trilhos, cascatas e praias fluviais.
"Está calmíssimo", nota Isabel Pereira, da Associação para o Desenvolvimento do Turismo e Lazer da Fundada (ADETULF), entidade que gere o Parque de Campismo e Praia do Bostelim.
Apesar de o parque estar quase vazio, Isabel mantém a esperança de que a situação melhore.
"Tenho que manter o otimismo e tenho que continuar confiante", vinca.
O incêndio que deflagrou no sábado em Vila de Rei e afetou também Mação consumiu mais de 9.500 hectares de florestais, segundo o Sistema Europeu de Informação de Incêndios Florestais (EFFIS).
(Por: João Gaspar da agência Lusa)
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