
“É através da valorização da língua portuguesa que vamos conseguir, cada vez mais, afirmar-nos como universidade de prestígio no mundo inteiro”, afirmou o vice-reitor para as Relações Externas e Alumni, João Nuno Calvão da Silva.
Em entrevista à agência Lusa, a propósito dos 50 anos das independências das antigas colónias de África e de Timor-Leste, sublinhou que a língua de Camões “tem de ser a marca decisiva” da instituição a nível global.
Nuno Calvão da Silva tutela a Casa da Lusofonia, um espaço inaugurado em 2013, com a missão de “facilitar a criação de pontes entre os estudantes dos países lusófonos e os estudantes nacionais e internacionais” e que funciona como sede de associações de alunos de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
“A Casa da Lusofonia é o retrato do que é a Universidade de Coimbra, ancorado na nossa história de 735 anos”, referiu.
E a universidade fundada pelo rei D. Dinis, em 1290, ela própria “é uma marca de prestígio” que deve orgulhar os seus membros e responsáveis de sucessivas gerações.
“Todo este mundo de língua portuguesa olha para nós com especial encanto, respeito e consideração”, salientou o professor da Faculdade de Direito (FDUC).
“Fomos durante muito tempo a única universidade do mundo de língua portuguesa. Não podemos deixar de reconhecer a nossa memória como um fator estratégico para a sua afirmação e para o gizar de uma estratégia para o futuro”, preconizou.
O vice-reitor para as Relações Externas realçou que a UC “tem a maior comunidade de estudantes brasileiros” fora do maior país lusófono, cerca de 2.500, num universo de 25 mil alunos, a que se juntam universitários dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), mas também de Timor-Leste e Macau.
“Eles vêm porque querem estudar em língua portuguesa, senão iriam mais para os Estados Unidos ou para o Reino Unido”, observou, para vincar “uma aposta que se impõe e que é reconhecida” no mundo lusófono.
Ao lembrar que o ordenamento jurídico de Macau “foi esculpido por professores da FDUC”, vigorando até 2049, Nuno Calvão da Silva revelou que a Faculdade de Medicina de Coimbra está agora também envolvida em parcerias com essa região administrativa especial da China, que foi colónia de Portugal durante mais de 400 anos.
“A língua portuguesa pode deixar âncoras para a nossa internacionalização”, acentuou.
A UC reúne boas condições para “dialogar com todas as universidades do mundo, respeitando as diferenças e não alienando o seu património fundamental, que é o do humanismo”, o que, na sua opinião, constitui uma vantagem “intemporal e independente dos ciclos políticos”.
Nas últimas décadas, por proposta das diferentes faculdades, a UC distinguiu com o título de doutor “honoris causa” líderes políticos de países que há 50 anos se tornaram independentes de Portugal.
Estão no grupo os presidentes de Cabo Verde Aristides Pereira (1989) e António Mascarenhas Monteiro (2000), antigo estudante da UC, e o homólogo de Moçambique Joaquim Chissano (1999), todos agraciados por iniciativa da Faculdade de Economia, além do atual primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão (2011), doutorado a título honorífico pela Faculdade Letras da Universidade de Coimbra.
Ao todo, são seis os presidentes do Brasil que receberam o grau de doutor “honoris causa” na Sala dos Capelos, onde, em 1862, o então estudante Antero de Quental e companheiros da secreta Sociedade do Raio protagonizaram a Revolta dos Capelos.
João Café Filho (1955) e Juscelino Kubitschek de Oliveira (1960) integraram a lista em plena ditadura de Salazar, enquanto os restantes foram galardoados após o 25 de Abril de 1974 e já com a democracia restaurada no Brasil: Tancredo Neves (1985), José Sarney (1986), Fernando Henrique Cardoso (1995) e Lula da Silva (2011).
Destes seis estadistas do Brasil, apenas Fernando Henrique foi doutorado pela Economia, tendo a proposta partido da Faculdade de Direito nos restantes casos.
O primeiro presidente de Angola, Agostinho Neto, frequentou a Faculdade de Medicina de Coimbra e viveu na dependência local da Casa dos Estudantes do Império, em meados do século XX, antes de se envolver, em Lisboa, nas atividades anticoloniais.
Quase 3.500 estudantes das ex-colónias frequentam a Universidade de Coimbra
Perto de 3.500 estudantes das antigas colónias portuguesas frequentam a Universidade de Coimbra (UC) no presente ano letivo, dos quais cerca de 2.400 são brasileiros, segundo fonte daquela instituição.
No total, excluindo Portugal, são 3.457 os inscritos em diferentes cursos oriundos dos outros estados da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), disse à agência Lusa uma fonte do Gabinete de Assessoria de Imprensa da UC.
Assim, os alunos da comunidade lusófona, incluindo a RAEM da República Popular da China, representam cerca de 14% dos 25 mil estudantes atualmente matriculados nas várias faculdades da mais antiga universidade portuguesa, com uma história de 735 anos, liderada pelo reitor Amílcar Falcão.
Por ordem alfabética, os países de origem desses universitários estrangeiros são Angola (253), Brasil (2.397), Cabo Verde (189), Guiné-Bissau (138), Moçambique (316), São Tomé e Príncipe (36) e Timor-Leste (112), além de Macau (16), antiga colónia integrada na China em 1999.
O vice-reitor para as Relações Externas e Alumni, João Nuno Calvão da Silva, tutela a Casa da Lusofonia, destinada a promover “pontes entre os estudantes dos países lusófonos e os estudantes nacionais e internacionais” e que alberga as sete associações de alunos de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Este espaço da UC, criado em 2013, conta também com a colaboração da associação Erasmus Student Network (ESN) e da Associação Académica de Coimbra (AAC).
A Casa da Lusofonia funciona ainda como “ponto de encontro entre todos os estudantes que, independentemente da sua nacionalidade, querem dar uma dimensão internacional ao seu futuro”.
*Por Casimiro Simões, da agência Lus
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