O avanço do projeto – que ficará sedeado no bairro da Quinta do Lavrado, mas servirá toda a freguesia, como os restantes equipamentos sociais instalados no polo – está dependente de “uma intervenção de fundo no pátio por cima” do espaço e da impermeabilização do local, pois “chove lá dentro”, especifica a junta.
“O mau estado de conservação das lojas é do conhecimento da Gebalis”, refere a junta, indicando que não tem “previsão de intervenção” por parte da empresa responsável pela gestão da habitação municipal.
No âmbito de uma reportagem da Lusa sobre os bairros construídos no âmbito do Programa Especial de Realojamento (PER), que cumpre 30 anos, a associação de moradores da Quinta do Lavrado mencionou a existência de lojas que, sendo propriedade da junta de freguesia, continuam fechadas.
Em entrevista à Lusa, a presidente da Junta de Freguesia da Penha de França (eleita pelo PS), Sofia Oliveira Dias, explicou que “as únicas [lojas] que não estão ocupadas são duas ao lado da associação de moradores”.
As restantes quatro lojas – cedidas à junta de freguesia pela Gebalis – acolhem, além dos gabinetes do pelouro do desenvolvimento social, uma mercearia social, um posto médico, uma loja social Troca Amiga, uma cozinha industrial e um salão para atividades.
As duas lojas fechadas “não estão ocupadas porque não temos condições de segurança para as ocupar”, explica Sofia Dias, acrescentando que a situação é “do conhecimento da Câmara [coligação Novos Tempos, que junta PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança] e do conhecimento da Gebalis”.
“Já vamos no terceiro presidente (…) da Gebalis ao qual colocamos sucessivamente estas questões”, detalha a presidente da junta, indicando que “é preciso que a Câmara dê a verba" à empresa municipal para que esta possa fazer as obras.
A agência Lusa questionou a Câmara de Lisboa sobre este assunto, mas não obteve resposta em tempo útil.
Assim, “a própria junta é vítima dos mesmos problemas” de infiltrações de água de que a comissão de moradores se queixa em relação à sede que ocupa, contígua às duas lojas fechadas.
“Falta a Gebalis fazer as obras para podermos avançar com o projeto que temos. Estamos à espera há imenso tempo”, realça Capitolina Almeida Marques (PS), vogal que, na junta, tem a responsabilidade de coordenação dos projetos do polo da Quinta do Lavrado, que serve toda a freguesia, com 28 mil habitantes (e, no caso da loja social, toda a cidade).
“Faz muita falta essa resposta” – do espaço sénior –, que seria “uma mais-valia para a freguesia”, destaca, na visita guiada à Lusa pelos equipamentos sociais.
Atualmente, segundo dados da junta, a mercearia, que inclui uma área de bem-estar animal e que aproveita “o desperdício” de alguns supermercados, abastece 140 famílias, equivalentes a 282 pessoas, 15% das quais vivem na Quinta do Lavrado, que realojou populações que antes viviam em bairros autoconstruídos, como o da Curraleira.
Ali se entregam cabazes com bens alimentares, de higiene pessoal e da casa, que também podem ser distribuídos ao domicílio, quando é necessário. O armazém está bem recheado e não há queixa de falta de apoios, embora seja sempre preciso mais.
Segundo Capitolina Marques, que ali trabalha há 13 anos, os vários projetos sociais têm tido “uma procura crescente” e a junta está “a apoiar muitas famílias”.
Todos os beneficiários dos apoios são sinalizados nos atendimentos sociais ou por parceiros como a Santa Casa da Misericórdia e as paróquias.
Outra sala, servida por uma cozinha industrial, acolhe atividades abertas à comunidade. A Escola Profissional de Hotelaria e Turismo de Lisboa, não longe dali, tem feito formações, por exemplo sobre receitas económicas e saudáveis.
O posto médico oferece uma dezena de especialidades e regista uma média de 178 atendimentos por mês, a preços reduzidos. Os serviços de enfermagem e as consultas de psicologia e psiquiatria são gratuitos.
O espaço acolhe ainda um gabinete de inserção profissional, que funciona todos os dias, tal como o Balcão SNS 24, onde é possível renovar receitas ou marcar consultas.
Mas o motivo de maior orgulho para Capitolina Marques é a loja social Troca Amiga, uma espécie de boutique, com vestiários e manequins, onde tudo está organizado por idade e produto.
Sob marcação, a loja abre-se a quem precisa de roupa, calçado, acessórios, brinquedos, roupa de cama e atoalhados (e mesmo eletrodomésticos e mobiliário, guardados num armazém). Desde um enxoval para bebé a um fato para casamento ou a uma roupa para candidatura a emprego, a loja tem de tudo, “sempre com dignidade”, sublinha a coordenadora.
Sobre as queixas da associação de moradores relacionadas com a falta de cuidado dos espaços públicos da própria Quinta do Lavrado, a junta de freguesia sublinha que “a grande manutenção depende da Gebalis”.
A Câmara de Lisboa, em resposta à Lusa, adiantou que a Quinta do Lavrado fará parte do novo contrato-programa que deverá ser assinado em junho, estimando-se que as obras de reabilitação do edificado arranquem em 2024, desconhecendo-se se haverá intervenção nos espaços públicos.
Até lá, Sofia Dias garante que vai “continuar a apostar em (…) pequenas obras que se podem fazer para melhorar um bocadinho a vida das pessoas”, adiantando que já se reuniu com o atual presidente da Gebalis “no sentido de reforçar essa necessidade de intervir” no bairro.
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