O projeto, que integra 20 grupos de investigação canadianos e quatro grupos europeus, visa “desenvolver metodologias para tratar certo tipo de doenças neurológicas associadas à perda de neurónios, intervindo diretamente no cérebro dos doentes, mais especificamente no local onde se verificou a lesão”, adianta hoje, em comunicado, o instituto da Universidade do Porto (i3S).
Apesar de ainda não existir cura para os distúrbios neurológicos associados à perda ou disfunção neuronal, o i3S destaca que a reprogramação neuronal direta [metodologia assente na conversão de outras células em neurónios] é “cada vez mais encarada como uma estratégia promissora para reparar o cérebro em situações patológicas associadas à perda de neurónios”, como no caso das doenças neurodegenerativas ou acidentes vasculares cerebrais.
“Na base desta ideia estão resultados encorajadores de experiências desenvolvidas em células em cultura, e que usam proteínas, chamadas fatores de transcrição, para ligar e desligar genes que dão às células características de neurónios”, assinala.
No decorrer do projeto, que tem a duração de seis anos, os investigadores vão procurar “efetuar a reprogramação neuronal diretamente no cérebro”, mas, para que tal seja possível, é preciso “ultrapassar algumas barreiras”.
Com recurso a modelos animais, os investigadores vão tentar identificar o “conjunto de fatores de transcrição ideal para obter determinados tipos de neurónios, “desenvolver metodologias para colocar os fatores dentro das células cerebrais que tencionam reprogramar e encontrar formas de avaliar o sucesso da reprogramação neuronal”, através de técnicas de imagiologia do funcionamento cerebral.
“O objetivo a longo prazo é conceber aplicações clínicas para reprogramação neuronal diretamente no cérebro dos pacientes, mais especificamente na zona onde houver perda de neurónios, gerando novos neurónios a partir de células residentes do cérebro adulto, nomeadamente os astrócitos”, esclarece, citado no comunicado, o investigador Diogo Castro, coordenador da equipa do i3S que integra o projeto.
Ainda que esse seja o objetivo, é necessário, inicialmente, fazer uma “prova de conceito em modelos pré-clínicos”.
“Os astrócitos, pela sua plasticidade, abundância e localização, são o candidato ideal para este efeito, já que podem ser convertidos em neurónios com relativa facilidade e se encontram disseminados por todo o órgão”, acrescenta Diogo Castro, líder do grupo Stem Cells & Neurogenesis do i3S, que tem vindo a desvendar como funcionam os fatores de transcrição envolvidos na geração dos neurónios durante o desenvolvimento embrionário.
Neste consórcio, os investigadores do i3S vão ajudar no mapeamento dos locais de ligação dos fatores de transcrição ao genoma dos astrócitos durante a reprogramação neuronal.
Coordenado pelo Sunnybrook Research Institute (Canadá), o projeto foi financiado com mais de 16 milhões de euros pelas três agências governamentais canadianas para a investigação: Canadian Institutes of Health Research (CIHR), Natural Sciences and Engineering Research Council (NSERC) and Social Sciences and Humanities Research Council (SSHRC). A equipa do i3S irá receber cerca de 750 mil euros.
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