O método, desenvolvido no âmbito do projeto ARNanoFilm, consiste numa película transparente, denominada filme, que as mulheres podem introduzir no interior da vagina, antes do ato sexual, de forma a prevenir a infeção pelo vírus, explicaram à Lusa os investigadores do i3S José das Neves e Bruno Sarmento.
Esta tecnologia, que se encontra em fase de testes em células e animais, incorpora nanopartículas antirretrovirais (moléculas capazes de bloquear o ciclo de vida do VIH) que contêm drogas em filmes poliméricos.
Os filmes polímeros, por sua vez, são películas muito finas (com cerca de um décimo de milímetro), mais ou menos transparentes, suaves e flexíveis, que podem ser administradas facilmente pela mulher, sem necessidade de nenhum tipo de aplicador.
Quando em contacto com os fluídos naturais da vagina, o filme dissolve-se e liberta as nanopartículas, que se distribuem de forma uniforme e prolongada na cavidade vaginal, libertando os fármacos antirretrovirais de modo lento e contínuo, criando uma barreira extensa contra a invasão do vírus.
A utilização deste método de proteção, que pode ser utilizado com ou sem conhecimento por parte do parceiro, permite conferir à mulher “um total controlo no que diz respeito à sua proteção”, referiram os investigadores.
A necessidade de desenvolver novas estratégias de prevenção da transmissão sexual do VIH atraiu a atenção da equipa de investigação há vários anos, devido à urgência registada de proteção das mulheres consideradas mais vulneráveis e expostas a situações de desigualdade de género.
No entanto, os esforços realizados durante as últimas duas décadas na obtenção de um produto microbicida anti-VIH “altamente eficaz” revelaram-se infrutíferos, estando os problemas, em larga medida, relacionados com as dificuldades tecnológicas que não permitem manter níveis suficientes de fármacos antirretrovirais na vagina.
De acordo com os investigadores, até ao momento não existe nenhum produto microbicida anti-VIH disponível no mercado, estando a ser criados um gel e um anel vaginal, este último com previsão de licenciamento, em alguns países, em 2018.
Contudo, segundo indicaram, ambos os produtos demonstraram uma eficácia relativamente baixa, tendo reduzido a ocorrência de novas infeções em mulheres em cerca de 27% a 39%.
Participaram no desenvolvimento da tecnologia mais de uma dezena de investigadores do i3S, em colaboração com a Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário (CESPU) e com a Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto.
Desde abril, o projeto tem sido apoiado pelo RESOLVE, um programa do i3S que auxilia a transferência de conhecimento científico e tecnológico de projetos inovadores na área da saúde, que estejam em estágio inicial.
Embora o desenvolvimento da tecnologia tenha iniciado em 2014, os estudos do grupo de investigação com nanopartículas carregadas com fármacos antirretrovirais começaram em 2009.
Para além do RESOLVE, os vários projetos associados ao desenvolvimento dos filmes têm recebido o apoio financeiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e do Programa Gilead GÉNESE.
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