"É o fim de um pesadelo", disse emocionado Beniamino Zuncheddu quando soube da sentença proferida esta sexta-feira pelo Tribunal de Recurso de Roma, onde o processo de revisão contra a condenação corria há quase quatro anos. "Sou um sobrevivente".
Zuncheddu, um pastor da Sardenha, tornou-se o "protagonista do erro judicial mais longo da história italiana: foram perto de 33 anos atrás das grades, 12 mil dias de cativeiro, sofrimento, dor, distância de seus entes queridos e da sua vida", afirmou a organização errorigiudiziari.com [errosjudiciais.com], que esteve presente em todo o processo de recurso. A sentença foi recebida com aplausos no tribunal.
Beniamino Zuncheddu foi preso foi preso a 28 de Fevereiro de 1991, com 27 anos, condenado por matar a tiro Gesuino Fadda, de 56 anos, o seu filho Giuseppe, de 24 anos, e um funcionário, Ignazio Pusceddu, de 55 anos, naquele que ficou conhecido como o massacre de Sinnai, na província de Cagliari.
O crime aconteceu a 9 de Janeiro de 1991, mas deixou uma testemunha, o genro de Fadda, Luigi Pinna, de 29 anos, que ficou gravemente ferido. Inicialmente, Luigi Pinna, o único sobrevivente, afirmou que não podia reconhecer o assassino porque o seu rosto estava tapado, mas mais tarde apontou o dedo a Beniamino Zuncheddu numa identificação fotográfica.
O pastor sempre se declarou inocente, mas foram precisos 25 anos para surgir uma esperança. Em 2017, o advogado Mauro Trogu, a pedido da irmã de Beniamino, Augusta, assumiu a defesa de Zuncheddu e retomou o caso, revendo-o de fio a pavio. Em 2020 o processo acaba por ser reaberto.
E é numa das audiências que Luigi Pinna, a única testemunha ocular do crime, acaba por confessar o erro: "Há 33 anos, antes de identificar os suspeitos, o polícia que liderava a investigação mostrou-me a fotografia de Zuncheddu e disse-me que era ele o culpado do massacre. Foi assim, errei ao ouvir a pessoa errada".
Desde o primeiro momento os investigadores apontaram como causa do triplo homicídio as disputas entre pastores da região, relacionando incidentes ocorridos antes do abate de alguns animais.
Nos últimos 32 anos, as vítimas de erros judiciais e detenções injustas atingiram um total de 30.778 pessoas, de acordo com dados da Errorigiudiziari.com. A organização estima que todos os dias são presas três pessoas inocentes em Itália, uma a cada oito horas.
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