Acompanhado pelo secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, e pela antiga presa política Maria José Ribeiro, João Oliveira visitou esta tarde o Museu Militar do Porto, no número 329 da Rua do Heroísmo, local onde, desde 1936, a polícia política do Estado Novo instalou a sua sede no Porto.
No pátio, João Oliveira e Paulo Raimundo observaram o local onde, à chegada, os presos políticos tinham de retirar os seus cintos, gravatas, lenços, ou “qualquer outro objeto que fosse considerado danoso” pela PIDE, antes de seguirem para um espaço de acolhimento onde, “por vezes, eram já maltratados, de várias formas, de bofetadas a murros e pontapés”.
Depois de passarem num corredor onde havia salas de interrogatório, celas de isolamento e um estúdio fotográfico, Paulo Raimundo e João Oliveira observaram uma cela - onde dormem hoje militares -, na qual Maria José Ribeiro foi detida e submetida a interrogatório durante cerca de nove meses, em 1958, logo a seguir à campanha presidencial do general Humberto Delgado.
A João Oliveira e Paulo Raimundo, Maria José Ribeiro recordou que essa foi apenas a primeira vez, num total de três, em que passou pelo número 329 da Rua do Heroísmo. Na segunda, em 1962, após ter participado numa manifestação contra a guerra colonial, Maria José Ribeiro diz ter recebido “a receção mais brutal que imaginaria ter”.
“Nem me perguntaram ‘quem és?’. Tinha 10 à espera com um cavalo-marinho”, recordou.
Agora, passados mais de 60 anos desde essa experiência, Maria José Ribeiro, que foi deputada do PCP entre 1983 e 1985 e cofundadora do Movimento Democrático das Mulheres, disse aos jornalistas que é preciso que, nestas eleições, as pessoas “votem com consciência”.
“É uma alegria estar aqui agora em liberdade, depois daqueles anos terríveis. O que nós queremos é que não volte a acontecer e que as pessoas tenham muita consciência do que representa uma viragem terrivelmente à direita que está a acontecer por todo o lado”, disse.
Depois, Maria José Ribeiro entregou um manifesto, assinado por 153 antigos presos políticos, de apelo ao voto na CDU, e salientou que é crucial “defender a liberdade, a democracia, tudo o que foi conquistado pelo 25 de Abril”.
Aos jornalistas, João Oliveira explicou aos jornalistas que esta visita serviu para alertar para os “projetos e forças antidemocráticas e reacionárias, incluindo de extrema-direita”, que são hoje “perigos do nosso quotidiano”.
Neste contexto, o cabeça de lista da CDU às europeias defendeu que é “particularmente importante” que se aprenda com a “história de resistência ao fascismo e com a luta de resistência que foi travada em Portugal”, e em particular no número 329 da Rua do Heroísmo, onde muitos resistentes foram “vítimas de prisão, torturas e espancamentos”.
“O facto de virmos hoje fazer esta visita procura também sublinhar esse aspeto: de batalha pela democracia que estamos a travar, da força de Abril que a CDU é, não só pelo seu passado de resistência ao fascismo, de construção da liberdade e de democracia, mas também hoje, enfrentando as batalhas que temos pela frente”, disse.
Questionado se gostava de se encontrar com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que esta tarde vai participar numa arruada da Aliança Democrática (AD) também no Porto, João Oliveira respondeu que não.
“Fico muito satisfeito por ter hoje ao meu lado ex-presos políticos, lutadores pela liberdade e pela democracia, que resistiram ao fascismo e lutaram pela liberdade e pela democracia. Se outros preferem ter a companhia de quem aumenta taxas de juro, promove precariedade, eleva aos despejos, favorece o lucros das multinacionais, são opções que eles fazem”, disse.
Comentários