As cores são as conhecidas dos portugueses, com destaque para o verde e vermelho. Mas não são necessariamente as da bandeira lusa: os italianos chegaram a Torres Vedras e já se fazem notar. No total, esperam-se 6 mil em todo o concelho e mais alguns espanhóis. Hoje, no dia 1 da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), foram acolhidos no Parque do Choupal, no coração da cidade.
Daniele tem 30 anos e é o responsável de um grupo de 26 peregrinos. Todos têm mais de 18 anos e não conheciam Portugal. "Somos um grupo de Módena, estamos aqui porque nós, catequistas, fizemos esta experiência em 2016, em Cracóvia, e decidimos propor esta experiência aos miúdos", conta ao SAPO24, salientando que todos querem muito "viver esta experiência com o Papa e com os jovens".
Para já, as impressões do país ainda são poucas, mas diretamente do Oeste uma coisa já saltou à vista: "é tudo muito verde". Além disso, as pessoas. "Parece-me uma bela nação. Fomos muito bem acolhidos, não esperávamos que fossem tão acolhedores", diz entre risos.
Entretanto, a música no Parque do Choupal cala as conversas. Ouviu-se fado, desconhecido para a maioria dos presentes. Mas nota-se o entusiasmo. Contudo, o grande momento estaria por vir.
João Paulo, contratenor brasileiro que vive em Portugal "desde miúdo", pisou o palco pela primeira vez para cantar a Avé Maria de Gounod, para assinalar a vertente espiritual do encontro. Depois, ao primeiro sinal de Con te Partirò, os italianos formaram uma linha frente ao palco. Braços no ar, braços para baixo, uma coreografia improvisada no momento que contagiou todos os jovens no local.
"Metade são italianos e este é quase um hino secundário de Itália. Levou realmente o público a uma espécie de delírio", conta. "Para mim é uma honra e uma glória, porque o canto lírico é ainda pouco divulgado. Ver um público de jovens a apreciar este tipo de música e com esta hospitalidade, de uma maneira tão especial, é uma honra", evidencia.
Com participação no Got Talent e noutros programas de televisão, o contratenor explica que a reação dos italianos ultrapassou as expetativas. "Foi muito mais do que esperava, é um clima de muita alegria, tem uma mescla entre espiritualidade, festejo, música... vejo sempre todos com um sorriso no rosto. É um momento mesmo muito especial, é bom participar nesta atmosfera tão bela, de paz e muita harmonia".
Para a segunda parte do evento, a música portuguesa. Reinaldo Maia, um dos elementos do grupo Gaiteiros de Freiria, esperava a vez de atuar. "Viemos colaborar na receção dos jovens italianos, para abrilhantar a estadia deles por cá e fazer parte desta concentração de gente do nosso país", começa por apontar.
"Temos umas músicas tradicionais portuguesas, uma galega e também uma italiana, como saudação a esta gente", acrescenta. Todas elas com o som característico da gaita-de-foles, uma tradição de Freiria, "a freguesia mais a sul do concelho".
Mas a música não é mais do que um pretexto para o que realmente importa nesta semana. "Seja em Torres ou fora de Torres, acho que o impacto que a juventude tem nas cidades e o que eles levam daqui é uma forma construtiva de preparem um futuro melhor. Para mim isto tem um efeito idêntico ao Erasmus: é muito raro qualquer jovem não voltar à cidade onde foi acolhido. Aqui vai acontecer a mesma coisa. E aqui devem aproveitar esta oportunidade, este banho de juventude, porque todos têm a ganhar".
Laura Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, tem a mesma certeza. "Acredito na juventude como aqueles que são o estágio transformador em relação à nossa vida e à nossa sociedade. É com muita satisfação que os acolhemos para a Jornada Mundial da Juventude e que colocamos à disposição aquilo que de melhor temos no nosso território. São nossos visitantes e, portanto, aos nossos visitantes damos sempre o nosso melhor", afirma em declarações ao SAPO24.
"Os nossos equipamentos culturais estão abertos e não têm de pagar nada, basta apresentarem a credencial [de peregrino ou voluntário] para poderem visitar. Aquilo que nós queremos é que conheçam o nosso território, que sejam muito felizes durante estes dias, que seja uma jornada muito interessante, de amizade e de coesão e de visão relativamente ao futuro", refere a autarca.
Assim, o Festival All Around é o momento de receção dos cerca de 6 mil italianos que hão-de chegar. "Temos atuações de diversos artistas, na generalidade grupos e artistas torreenses que se organizaram com a coordenação da maestrina Filomena Calado, do coro infantil e juvenil de Torres Vedras, uma pessoa profundamente disponível para atividades culturais e que tem apoiado a realização da jornada também neste espaço, com o apoio de várias associações e entidades".
Maria Eugénia tem 79 anos — "jovem há mais tempo", como tem dito o Cardeal Patriarca de Lisboa — e veste orgulhosamente uma t-shirt amarela com o logótipo da JMJ.
"Sou família de acolhimento de quatro raparigas italianas em Santa Cruz. As pequenas que estão comigo estão por aí, vim trazê-las às 9h00 da manhã", conta orgulhosamente. "Diz-se umas coisas em italiano, outras em inglês e em português". Todas se entendem e a experiência é "altamente positiva, por todos os aspetos".
Joaquim, de 17 anos, faz parte de um grupo de peregrinos do concelho e partilha esta opinião. "É uma experiência muito diferente e abre horizontes por acolhermos jovens de outras nacionalidades. Estamos aqui a conviver, em espírito de comunidade", diz.
No grupo, além das bandeiras portuguesas, já há uma italiana. "Chegaram ao pé de nós a perguntar se queríamos trocar e achámos que era uma ideia engraçada e que íamos criar memórias", justifica. É o início da jornada e já há histórias a contar. Muitas mais virão.
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