“O partido tem um líder, tem um programa e tem um caminho a fazer, esse caminho é inquestionável. A nós cumpre-nos criar as condições necessárias de solidariedade real, efetiva ao líder do partido, porque um resultado é sempre coletivo, nunca é de uma só pessoa”, afirmou Arnaut, em declarações à agência Lusa, escusando-se a fazer quaisquer outros comentários sobre a atual situação do PSD.
Questionado sobre a análise feita, na sexta-feira, pelo Presidente da República de que "há uma forte possibilidade de haver uma crise na direita portuguesa nos próximos anos", Arnaut discordou da visão de Marcelo Rebelo de Sousa.
“Há uma crise de confiança no atual sistema, isso há, como se vê pela abstenção, que tem sido crescente, e essa crise toca todos os partidos do sistema e toca as instituições políticas ‘lato sensu’”, defendeu.
José Luís Arnaut, que chegou à direção do PSD em 1996 quando Marcelo Rebelo de Sousa liderava o partido, apontou que em Portugal esse sinal não passou pelo crescimento de partidos populistas, mas pela “procura de novas soluções”, como o PAN.
“Não há exclusivos, não há monopólios de crises, também se pode dizer que o PCP esteve em crise, que o PS esteve em crise, que o BE esteve em crise”, referiu.
O antigo secretário-geral social-democrata na liderança de Durão Barroso apontou “um problema de representatividade entre eleitores e eleitos”, dando como exemplo os recentes problemas judiciais envolvendo autarcas do PS.
“Há um problema, que não é monopólio nem da direita, nem da esquerda, nem só de Portugal […]. É um alerta para que os partidos do sistema tomem medidas necessárias para evitar que os eleitores se vão refugiar em partidos antissistema, o que em Portugal não aconteceu, ou em partidos com propostas e discurso alternativo, que foi o caso do PAN”, referiu.
Para Arnaut, a prova de que a direita não está em crise é que o seu eleitorado “se manteve unido”, apontando como sinal “o insucesso gritante do Aliança”, partido fundado pelo ex-líder do PSD Pedro Santana Lopes.
Questionado que caminhos pode o PSD seguir para responder a este problema, o antigo dirigente social-democrata recusou fazer recomendações.
“É um problema do regime e do sistema, não é um problema do PSD”, reiterou.
Na sexta-feira, numa intervenção na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), em Lisboa, o Presidente da República considerou que "há uma forte possibilidade de haver uma crise na direita portuguesa nos próximos anos" e defendeu que, num contexto destes, o seu papel "é importante para equilibrar os poderes".
Marcelo Rebelo de Sousa comentava os resultados das eleições europeias de 26 de maio, declarando que Portugal tem agora "uma esquerda muito mais forte do que a direita" e que "o que aconteceu à direita é muito preocupante".
No sábado, o líder do PSD, Rui Rio, já tinha discordado da análise do Presidente da República sobre a possibilidade de uma crise na direita portuguesa, considerando-a uma visão "otimista" e "superficial", já que a crise é "transversal" ao regime.
"A crise não está só à direita, a crise está no regime comum todo. Neste momento está à esquerda no poder e, portanto, disfarça à esquerda. Mas, o problema é transversal, nós temos uma crise efetiva de regime, com um descrédito muito grande de todo o sistema partidário, não é à direita nem à esquerda", declarou.
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