“Do meu ponto de vista, eu gostaria que Santiago Macias fosse candidato à Câmara Municipal de Moura”, diz José Maria Pós-de-Mina ao SAPO24. O autarca, gestor, de 58 anos, antigo presidente da autarquia de Moura e agora novamente candidato, comentava a saída rápida do atual presidente da Câmara Municipal de Moura da liderança da autarquia, tendo cumprido apenas um mandato.
No dia 2 de março deste ano, Macias enviou uma carta ao partido do qual é militante, o PCP, anunciando a sua decisão "de não continuar, colocando ponto final neste percurso político". Eleito em 2013, o ainda autarca, foi o primeiro nome neste século a liderar Moura após os 16 anos, dede 1997, em que Pós-de-Mina presidiu ao município da cidade de Beja.
Cerca de dois meses depois de ter comunicado ao seu partido a intenção de abandonar a Câmara, Santiago Macias recorreu ao seu blog pessoal para explicar a sua decisão numa publicação intitulada “Dos Melhores Anos da Minha Vida”. Lá, afirmou não se ter arrependido da decisão tomada de interromper o seu percurso académico para liderar “uma autarquia do interior português” com “empenho e total entrega”.
Aqui lamenta um mandato difícil com várias “dificuldades externas e internas”. “Sem fundos comunitários e com menos meios que antes, que caminhos tomar?”, pergunta ironicamente Santiago Macias, o homem que está a poucos dias de deixar a liderança da autarquia, e que se despede dos munícipes com a seguinte mensagem: “As soluções e a força estão em nós. Em todos nós. Não há salvadores da pátria, nem profetas nem homens ou mulheres providenciais.”
É daqui que partimos para o telefonema com Pós-de-Mina. “O Dr. considera-se um homem providencial para o concelho”, perguntamos após a leitura do excerto da publicação de Macias. “Eu sou um entre muitos, faço parte de uma equipa, faço parte de um coletivo, tenho esta responsabilidade de ser o primeiro da lista para a Câmara e por essa via ser eleito, como espero ser, presidente da Câmara Municipal de Moura”, responde-nos do outro lado.
Sobre a saída de Santiago Macias, que lhe reabre a porta da liderança da autarquia para mais 4, 8 ou 12 anos, não tem grande coisa a dizer. “O Dr. Santiago Macias trabalhou comigo - foi vereador - durante oito anos, e tem exercido o mandato agora como presidente, com grande qualidade, com grande empenho, com grande dedicação, ele e a equipa, e aquilo que nós queremos fazer é dar continuidade. Agora questões de caráter mais pessoal ou de opinião pessoal só os próprios é que podem responder por isso”.
“Sabe, surgiu recentemente um parecer que determina que o fisco não pode cobrar impostos retroativos, nós também podemos dar respostas retroativas”, brinca o candidato.
José Maria Pós-de-Mina é um dos mais de 20 ex-autarcas que querem voltar a liderar uma Câmara Municipal. Pode-se dizer, inclusive, que o histórico autarca de Moura, membro do Comité Central do PCP a nível nacional, está entre os “dinossauros”, ou melhor dizendo, de um grupo de autarcas que foram presidentes três ou mais de três mandatos consecutivos e que agora querem voltar, como são exemplo a candidatura de Isaltino Morais à Câmara de Oeiras (Lisboa), Narciso Miranda a Matosinhos e Valentim Loureiro a Gondomar (ambas no distrito do Porto). Todas estas independentes.
Durante estes quatro anos, fora da Câmara de Moura, manteve-se envolvido na vida do concelho. É ainda membro da CDU na Assembleia Municipal de Moura, presidente da assembleia geral da empresa municipal de Moura Lógica, do Conselho Fiscal da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e do órgão de gestão do Grupo de Ação Local da Margem Esquerda do Guadiana.
Foram quatro anos afastado da presidência, mas admite que tem gostado das funções que tem exercido e que se sente “melhor preparado para o exercício da presidência" do que quando saiu. Não tendo a preocupação de ser chamado “treinador de bancada”. Diz que nunca deixou de dar a sua opinião sobre aquilo “que são os acontecimentos quer no âmbito partidário, quer fora”. “É aquilo que continuarei a fazer sempre. Não condeno os treinadores de bancada porque acho que é importante que todas as pessoas participem”, diz-nos Pós-de-Mina.
Mas os últimos 4 anos não se ficam por aqui, sobretudo porque José Maria Pós-de-Mina entende que não deveriam ter sido de interregno, tecendo várias críticas à lei da delimitação de mandatos. “Não concordo com a existência de delimitação de natureza administrativa, sempre fui contra isso e continuo a ser”, diz ao SAPO24 o candidato à Câmara Municipal de Moura. Antes diz concordar “que em cada circunstância se faça uma avaliação política e em cada momento para cada concelho sejam encontrados os candidatos que melhor correspondam aos desafios que os mandatos têm. Não tem de haver delimitação administrativa. Eu sempre defendi que uma pessoa que pode ser um excelente candidato para um determinado período pode deixar de ser e depois voltar a ser”.
“Acredito que uma maioria absoluta está perfeitamente ao nosso alcance”
Sobre a batalha deste domingo, o histórico autarca relembra que “a população tem confiado na CDU nos últimos mandatos”, desde que em 1997 o próprio Pós-de-Mina retirou a autarquia das mãos do poder socialista. Por isso diz não ver “razões para deixar de confiar”.
Pós-de-Mina foi o homem que colocou a batalha pela Câmara de Moura nas mãos da CDU há quase 20 anos, uma disputa que ficou renhida nas eleições autárquicas de 2013, quando a CDU manteve a presidência da autarquia com uma diferença residual de votos em relação ao PS, momento em que Macias concorreu no lugar do impedido Pós-de-Mina devido à lei da delimitação de mandatos. Por isso, embalado pelo cenário nacional, o SAPO24 perguntou se em cima da mesa poderia estar um plano de ‘geringonça’, mas tal não parece estar nos planos do autarca. Caso vença, diz que o futuro se irá traduzir “em função daquilo que serão as propostas concretas apresentadas, e esse é um trabalho que se vai desenvolver ao longo do mandato e em função das circunstâncias que cada um terá de assumir”.
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