Ao longo do dia foram surgindo várias publicações no Facebook, Instagram e Twitter, algumas apenas com fotografias de José Mário Branco ou vídeos com temas seus, outros acompanhados de textos com histórias envolvendo o autor de músicas como “FMI”, “Eu vim de longe” ou “Inquietação”.
O contrabaixista Carlos Bica, defendendo que José Mário Branco “foi e continua a ser um dos melhores compositores portugueses de todos os tempos”, refere que guardará “para sempre”, na memória e no coração, “a pessoa excecional que ele foi”.
Carlos Bica recorda que foi em criança que ouviu o álbum “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” (1971), que “de imediato” o apaixonou e mais tarde considerou “um marco importantíssimo na história da música portuguesa”.
O músico conta como em 1981 teve “o privilégio de conhecer pessoalmente José Mário Branco”, que lhe deu “a oportunidade de participar no álbum do Carlos do Carmo ‘Um homem no país’, o primeiro disco de fado que contou com a participação de um músico contrabaixista, o que nessa altura foi um ato deveras ousado perante a postura conservadora do Fado”. Essa foi apenas a primeira de “muitas outras mais colaborações musicais”.
O músico e compositor Pedro Silva Martins, dos Deolinda, fala no “imenso prazer” que teve de conhecer pessoalmente José Mário Branco. “Nas conversas que tivemos aprendi muito sobre a Música e o seu fundamento, palavras que nunca mais esquecerei”, escreveu sobre o homem a quem chama “mestre”.
Parte da carreira de José Mário Branco está ligada ao fado, por isso não são de estranhar as várias reações de fadistas, como Camané, que agradece ao músico “por tudo”, Gisela João, Katia Guerreiro, que irá fazer do concerto que tem marcado na quinta-feira no Coliseu do Porto “uma homenagem” ao seu “mestrinho”, Ricardo Ribeiro, que fala em “mais uma estrela no céu” ou Aldina Duarte.
Cristina Branco partilha que hoje só consegue “estar triste e deixar cair sobre a terra um pouco de música e algumas palavras”. “Aos vivos resta-nos continuar. Nas palavras estará sempre a nossa luta”, escreveu.
Os Linda Martini lembram que, em 2006, José Mário Branco deu-lhes “o privilégio de poder usar um pedaço de uma obra maior” num tema da banda, “Partir para ficar”. “Hoje partiu, mas fica para sempre”, escreveram.
Por seu lado, Carlão recorda que trabalhou com José Mário Branco “uma boa temporada em Guimarães no espetáculo de encerramento da Capital Europeia da Cultura 2012”, confidenciando que “foi uma honra privar com este pensador combativo e homem doce”. “Partiu hoje, mas vive para sempre na obra que nos deixa”.
Ainda no mundo do ‘hip-hop’, Capicua, Nerve, Virtus, Mundo Segundo e Cálculo foram alguns dos ‘rappers’ que usaram as redes sociais para homenagear José Mário Branco. “Morreu o José Mário Branco, se nunca ouviram ou não conhecem deviam pesquisar e tirar algum do vosso tempo para ouvir”, aconselhou Cálculo no Twitter, lembrando que “antes do ‘rap’ a palavra já era uma arma”.
João Pedro Pais, os Amor Electro, os Anaquim, os Lavoisier, Elísio Donas (Ornatos Violeta) e o pianista Tiago Sousa também recorreram às redes sociais para homenagearem o “homem e exímio cantautor”, “grande referência e inspiração”, “génio compositor, instrumentista e produtor de música” que foi José Mário Branco.
Mas não foi só no mundo da música que José Mário Branco teve impacto.
O mágico Hélder Guimarães, numa mensagem escrita em inglês, relata aos seus seguidores que hoje “morreu uma grande parte da História portuguesa”. “José Mário Branco foi responsável por muitas das canções que convidaram a sociedade a pensar e a agir, uma geração que levou Portugal a libertar-se de uma ditadura e mostrou-nos que quando há vontade há caminho”, escreveu.
O ator Albano Jerónimo partilhou parte da letra do tema “incontornável” “FMI”. “Porra Mário, que maravilha e que tremenda pena. Fica a inquietação, sempre! Obrigado”, escreveu.
O humorista Bruno Nogueira fala em José Mário Branco como alguém que “foi e será sempre músculo fundamental” da música portuguesa e o escritor Valter Hugo Mãe considera que, com a morte do músico, “toda a música portuguesa empalidece”, visto que morreu um “génio”.
O ilustrador e ‘cartoonista’ André Carrilho partilhou a única caricatura que fez do músico, referindo que “um dos pontos altos” da sua carreira foi “participar como ‘video jack’ na homenagem à música ‘FMI’, há uns anos no Musicbox”, em Lisboa. “O José Mário Branco estava lá e pude testemunhar a expressão de surpresa e contentamento em ver pessoas mais jovens a ouvirem a música e a identificarem-se com ela, a sentirem afeto pela obra e pelo artista. É com essa expressão que o vou recordar”, partilhou.
Entre as muitas homenagens e testemunhos deixados por figuras e instituições públicas nas redes sociais contam-se ainda os do escritor Francisco José Viegas, do argumentista Filipe Homem Fonseca, do jornalista Carlos Vaz Marques, do psiquiatra Júlio Machado Vaz, do festival Iminente, do Museu do Fado, da Direção-Geral do Livro e das Bibliotecas (DGLAB), do fotojornalista João Pina, do artista Alexandre Farto (Vhils), do ator Nuno Lopes e do humorista Nuno Markl.
Nascido no Porto, em maio de 1942, José Mário Branco, que esta noite morreu em Lisboa, é considerado um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa, sobretudo no final dos anos 1960, quando estava exilado em França, e durante o período revolucionário.
Em 2018, José Mário Branco cumpriu meio século de carreira, tendo editado um duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999.
A edição sucede à reedição, no ano anterior, de sete álbuns de originais e de um ao vivo, de um período que vai de 1971 e 2004.
O seu trabalho estende-se também ao cinema e ao teatro. Regressado a Portugal, depois do 25 de Abril de 1974, foi fundador do Grupo de Ação Cultural (GAC), fez parte da companhia de teatro A Comuna, fundou o Teatro do Mundo, a União Portuguesa de Artistas e Variedades e colaborou na produção musical para outros artistas, como Camané e Amélia Muge.
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