"É um cantor que deu voz à luta, às inquietações dos trabalhadores e do povo. Veio do Porto e, para nós, continuará sempre mais vivo do que morto", disse a deputada comunista Ana Mesquita, em declarações à Agência Lusa.
Segundo a parlamentar, o PCP considera que "faleceu um dos grandes compositores e cantores da música portuguesa, que se destacou na música de intervenção e não só, com uma enorme influência em artistas do país".
"Ele destaca-se não só individualmente, mas também no trabalho com José Afonso, na criação de um som moderno, marcante, não só em termos estéticos, e que depois acabou, em termos simbólicos e históricos, a alcançar um grande valor por via do que foi a ‘Grândola, Vila Morena', senha da revolução", afirmou Ana Mesquita.
Para a secretária da Mesa da Assembleia da República, há ainda a reconhecer "o papel de José Mário Branco como divulgador, ao recuperar muita música tradicional portuguesa, pondo em prática muitas das recolhas de Michel Giacometti", além da "disseminação do poema português, de que é exemplo ‘Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades' (Camões)", bem como a sua "generosidade artística" que o levaram a "outras tendências musicais, como o fado".
Nascido no Porto, em maio de 1942, José Mário Branco é considerado um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa, em particular no período da Revolução de Abril de 1974. O seu trabalho estende-se também ao cinema e ao teatro.
Foi fundador do Grupo de Ação Cultural (GAC), fez parte da companhia de teatro A Comuna, fundou o Teatro do Mundo, a União Portuguesa de Artistas e Variedades e colaborou na produção musical para outros artistas, nomeadamente Camané, Amélia Muge ou Samuel.
Estudou História nas universidades de Coimbra e do Porto, foi militante do PCP até ao final da década de 60 do século passado e a ditadura forçou-o ao exílio em França, para onde viajou em 1963, só regressando a Portugal em 1974.
José Mário Branco foi fundador da UDP e, em 1980, eleito para o Conselho Nacional daquele partido. Em 1999 apoia o nascimento do Bloco de Esquerda, tendo integrado a sua Mesa Nacional, o órgão máximo entre convenções.
Em 2018, José Mário Branco cumpriu meio século de carreira, tendo editado um duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999. A edição sucede à reedição, no ano anterior, de sete álbuns de originais e um ao vivo, de um período que vai de 1971 e 2004.
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