A canção foi interpretada 'a capella', de forma espontânea e emotiva, por vários músicos que pertenceram ao Grupo de Ação Cultural (GAC) - Vozes na Luta, que na década de 1970 a gravou, com letra de José Mário Branco.
No salão nobre da Voz do Operário, decorado com cravos vermelhos, o coro estendeu-se a algumas dezenas de pessoas que por lá passaram para uma última homenagem e terminou com um aplauso.
Pelo local passaram figuras da cultura e da política portuguesa, entre o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, o secretário de Estado da Cultura, Nuno Artur Silva, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, e a coordenadora nacional do Bloco de Esquerda, Catarina Martins.
O presidente da câmara de Lisboa, Fernando Medina, recordou o "músico mobilizador" que "contribuiu para a democracia ".
Afirmando ser um dos "herdeiros, filhos dessa geração" que "ajudou a fazer o Portugal democrático", Fernando Medina disse que a autarquia irá atribuir o nome de José Mário Branco "a uma artéria da cidade".
Catarina Martins, por seu lado, recordou que "essa forma desassombrada de fazer perguntas difíceis em cada momento é uma das coisas mais importantes que podemos aprender com José Mário Branco".
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi dos primeiros a prestar homenagem hoje na Voz do Operário, recordando a maneira como José Mário Branco "soube conviver com a música portuguesa, uma música que é um símbolo do Portugal democrático com o qual ele sonhou antes da revolução, durante a revolução, durante a democracia, sonhando sempre muito mais do que aquilo que existia".
Sérgio Godinho, Fausto Bordalo Dias, o encenador Jorge Silva Melo, o realizador Bruno de Almeida, o humorista Ricardo Araújo Pereira, a fadista Kátia Guerreiro, o antigo dirigente político Mário Tomé e o diretor da Cinemateca, José Manuel Costa, também passaram pela Voz do Operário, assim como o fadista Camané, os músicos Mário Laginha e Carlos Barretto, o ator Carlos Paulo e o encenador João Mota, da Comuna - Teatro de Pesquisa.
Nascido no Porto, em maio de 1942, José Mário Branco morreu em Lisboa na noite de segunda para terça-feira, deixando um legado de 50 anos de música de inquietação, interventiva e militante.
É considerado um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa, sobretudo no final dos anos 1960, quando estava exilado em França, e durante o período revolucionário, a seguir ao 25 de Abril de 1974.
O seu trabalho estende-se também ao cinema e ao teatro.
Foi fundador e dirigente da antiga União Democrática Popular e do Bloco de Esquerda.
Em 2018, completou meio século de carreira, tendo editado um duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999, que sucederam à reedição, no ano anterior, de sete álbuns de originais e um ao vivo, gravados de 1971 a 2004.
No ano passado, quando da homenagem que lhe foi prestada no âmbito da Feira do Livro do Porto, José Mário Branco afirmou: “O que a gente faz é uma gota no oceano do grande caminho da Humanidade".
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