Na 11.ª sessão de julgamento, que decorre no Tribunal de Loures, na qual se concluiu a produção de prova, a arguida, que está a ser julgada pelo homicídio do marido, Luís Grilo, em coautoria com o arguido António Joaquim, pediu ao coletivo de juízes, presidido por Ana Clara Baptista, para prestar novamente declarações, o que aconteceu durante mais de três horas, na tarde de hoje.

Rosa Grilo criticou os inspetores da PJ, acusando-os de a “perseguir” e de “agarrar em dois idiotas que estavam a jeito” e de não seguirem outras linhas de investigação, perguntando, por exemplo, porque é que a PJ não questionou “a pessoa com quem” o marido “mantinha uma relação íntima”, facto que, segundo a própria, era do conhecimento da PJ, através de mensagens no telemóvel do marido.

A juíza presidente alertou, contudo, que estas acusações da arguida não eram justas, pois, como consta do processo, a PJ investigou outros cenários, os quais foram sendo descartados.

Uma das linhas de investigação descartada pela PJ foi a versão apresentada e mantida hoje pela arguida de que o marido foi morto por “três indivíduos” devido aos negócios de diamantes.

Rosa Grilo frisou que “é inocente da morte do marido”, admitindo ser “culpada e ter vergonha” por não ter tido a “coragem” para denunciar às autoridades que Luís Grilo foi morto por “três indivíduos”, que acha serem angolanos, e de tudo ter feito para esconder o crime, com medo de represálias dos alegados autores do homicídio do marido, contra si e o filho menor.

“Fiz tudo mal, desde o princípio ao fim. Devia ter ido falar com as autoridades e pedir ajuda”, assumiu a arguida perante o tribunal de júri (além dos três juízes, há mais quatro cidadãos).

Em 15 de outubro, o agente que celebrou os seguros com Luís e Rosa Grilo disse em tribunal que a arguida conhecia as seis apólices contratualizadas, incluindo os valores, as condições e as coberturas, desmentindo a versão apresentada por Rosa Grilo em julgamento.

Confrontada hoje pelo tribunal com estas declarações, Rosa Grilo acusou a testemunha de “mentir” e manteve o que disse na primeira sessão de julgamento, durante a qual afirmou que apenas tinha conhecimento da existência de dois dos seis seguros feitos pelo marido, acrescentando que “nada tinha a beneficiar e que nada paga a morte do marido”.

António Joaquim não quis hoje prestar mais nenhum esclarecimento, dizendo que mantinha tudo o que disse quando foi interrogado pelo coletivo de juízes.

De manhã foram inquiridos dois inspetores da PJ e um perito do Laboratório da Polícia Científica foi chamado a esclarecer a forma como foi realizada a recolha de vestígios da arma do arguido António Joaquim que, segundo a acusação do MP, foi o autor do disparo que matou Luís Grilo.

Aos autos foi junto o manual de procedimentos da PJ, a pedido de Ricardo Serrano Vieira, advogado de António Joaquim, que, ao longo do julgamento, colocou em causa e levantou suspeitas sobre a investigação e a forma como foram realizadas algumas perícias e recolhidas determinadas provas.

Os arguidos encontram-se em prisão preventiva desde 29 de setembro do ano passado.

O início das alegações finais ficou marcado para terça-feira, 26 de novembro, pelas 09:30.

O corpo do triatleta Luís Grilo, morto em 15 de julho de 2018, foi encontrado com sinais de violência e em adiantado estado de decomposição, mais de um mês após o desaparecimento, a cerca de 160 quilómetros da sua casa, na zona de Benavila, concelho de Avis, distrito de Portalegre.

O Ministério Público atribui a António Joaquim a autoria do disparo sobre Luís Grilo, na presença de Rosa Grilo, no momento em que o triatleta dormia no quarto de hóspedes na casa do casal, na localidade de Cachoeiras, Vila Franca de Xira (distrito de Lisboa).