Cenário das violentas explosões de hoje, que provocaram pelo menos 70 mortos e mais de 3.700 feridos, o Líbano está a atravessar a pior crise económica em décadas, marcada pelo colapso da sua moeda e demissões em massa que alimentam o descontentamento social desde há vários meses.

Entre Israel e a Síria

O país viveu 15 anos de guerra civil (1975-1990) e esteve sob a tutela síria dos anos 1990 até à retirada dos militares sírios em 2005. As instituições políticas há muito tempo que estão paralisadas devido a antagonismos entre os pró e os anti sírios.

Em março de 1978, o exército israelita entrou no vizinho Líbano para pôr fim aos ataques da Organização de Libertação da Palestina (OLP), antes de se retirar em junho.

Israel invadiu o Líbano novamente em junho de 1982 e estabeleceu uma zona-tampão, para garantir a segurança das localidades no norte, junto à fronteira comum.

Em 2006, uma guerra opôs Israel e o movimento xiita Hezbollah, criado após a invasão israelita de 1978 e financiado pelos Guardas Revolucionários Iranianos.

O poderoso movimento xiita reconheceu em 2013 o compromisso dos seus combatentes na guerra na Síria ao lado do regime de Bashar al-Assad, o que contribuiu ainda mais para dividir o cenário político libanês.

E o conflito sírio espalhou-se de forma regular pelo Líbano. Vários atentados atingiram Beirute e outras regiões do país.

Multirreligioso

O Líbano, que tem um cedro desenhado na sua bandeira, é um dos Estados mais pequenos do Médio Oriente, com cerca de 10 mil quilómetros quadrados de superfície, limitado a oeste pelo Mediterrâneo.

Considerado como relativamente liberal numa região profundamente conservadora, a religião ocupa um lugar de primeiro plano. Existem 18 comunidades religiosas no país, onde o Estado é dirigido por um complexo sistema de partilha de poder entre as diferentes confissões.

Colossal dívida externa

Pela primeira vez na sua história, o Líbano anunciou em março deste ano que se via forçado a entrar em incumprimento.

Segundo a agência de ‘rating’ Standard and Poor's (S&P), o país está atolado numa dívida externa no valor global de 92 mil milhões de dólares (cerca de 80 mil milhões de euros), correspondente a cerca de 170% de seu Produto Interno Bruto, um dos mais elevados do mundo.

Em maio, o país iniciou negociações com o Fundo Monetário Internacional para garantir ajuda crucial num resgate elaborado pelo Governo. Mas o processo continua sem avançar.

Em outubro de 2019, o movimento ‘ras-le-bol’ (‘Estamos fartos’) lançou diversas ações de protesto contra a classe dominante, praticamente a mesma desde há décadas e acusada de corrupção.

Segundo as estatísticas oficiais, cerca de metade dos seus 4,5 milhões de habitantes vive na pobreza e 35% da população em idade ativa está desempregada.

Peso económico dos refugiados

O Líbano acolhe atualmente 1,5 milhões de refugiados sírios, um milhão dos quais estão registados como tal nas Nações Unidas.

Mais de três quartos das famílias de refugiados sírios vivem abaixo da linha da pobreza, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Sem outros apoios regulares, contam com a ajuda de organizações não-governamentais para sobreviver.

Francofonia

Antiga potência mandatária (1920-1943), a França é um aliado tradicional do Líbano, que integra a Organização Internacional da Francofonia.

Existem no país cerca de 300 estabelecimentos escolares francófonos, mas a sua sobrevivência está ameaçada pela crise económica.