De acordo com os resultados oficiais da Agência Nacional para a Gestão das Eleições (ANGE), dirigida por indefetíveis do chefe da junta militar no poder, Mahamat “Kaka” Déby obteve 61,03% dos votos, contra 18,53% obtidos por Succès Masra, também com 40 anos.
Oito outros candidatos tiveram votações muito fracas, com exceção do antigo primeiro-ministro Albert Pahimi Padacké, que obteve oficialmente 16,91% dos votos.
A taxa de participação oficial foi de 75,89%. Estes números, anunciados em Ndjamena esta quinta-feira, perto das 22:00 (a mesma hora em Lisboa), mas muito antes da previsão oficial, que apontava para dia 21, têm ainda de ser validados pelo Conselho Constitucional, também composto por figuras nomeadas pelo chefe da junta.
Logo após o anúncio dos resultados, um destacamento do exército posicionado no bairro onde está sediado o partido “Les Transformateurs” (Os Transformadores), de Succès Masra, disparou vários tiros para o ar, em aparente sinal de alegria, mas obviamente também com o objetivo de dissuadir qualquer concentração de pessoas, sobretudo porque o líder da oposição havia já anunciado a vitória, justificada numa contagem de votos realizada pelo seu próprio partido.
De acordo com jornalistas da agência de notícias France-Presse (AFP) no local, algumas pessoas correram para se esconder nas suas casas e as ruas ficaram rapidamente desertas.
Em contrapartida, junto ao palácio presidencial, muitos dos apoiantes de Kaka Déby festejaram a vitória. Também aí, soldados e civis demonstraram alegria, disparando metralhadoras kalashnikovs para o ar.
Masra reivindicou na quinta-feira a vitória horas antes do anúncio dos resultados oficiais, num longo discurso na rede social Facebook, em que acusou o campo de Mahamat Déby de ter manipulado os resultados para anunciar a vitória do general.
Citando uma compilação de contagens de votos pelos seus próprios apoiantes, Masra apelou aos chadianos para que “não deixem que a vitória seja roubada (…), mobilizando-se pacificamente, mas com firmeza”.
“Sou agora o Presidente eleito de todos os chadianos”, declarou, por sua vez, Kaka Déby num discurso muito breve e monótono transmitido pela televisão, prometendo cumprir os seus “compromissos”.
Esta eleição pretende marcar o fim de uma transição militar de três anos, preparada para legitimar o jovem general, filho do antigo ditador Idriss Déby Itno – alegadamente morto na frente de combate contra grupos rebeldes -, proclamado líder de uma junta militar de 16 generais em 20 de abril de 2021.
Crítico aguerrido da dinastia Déby, Succès Masra, fugiu do país em outubro de 2022, após a repressão violenta de protestos que se seguiram ao anúncio do prolongamento do processo de transição, mas acabou por se juntar a Mahamat Déby em janeiro deste ano, sendo nomeado primeiro-ministro quatro meses antes das eleições.
O resto da oposição, amordaçada e violentamente reprimida, por vezes com eliminação física dos seus líderes, acusa Masra ser um “traidor” e de se apresentar como candidato presidencial para “dar um verniz democrático e pluralista” a uma eleição que sempre foi um dado adquirido para Déby.
Porém, Masra surpreendeu muita gente durante a sua campanha, reunindo grandes multidões.
Mahamat Déby foi apoiado desde o início da sua instalação pelo exército, em abril 2021, por uma comunidade internacional – liderada pela França – que se apressou a condenar golpistas noutras partes de África.
Paris ainda mantém um milhar de soldados no Chade, considerado um pilar na luta contra os extremistas islâmicos no Sahel, depois de os soldados franceses terem sido expulsos do Mali, Burkina Faso e Níger.
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