Falta de policiamento, violência, tráfico de droga, roubos e a existência de um sentimento de impunidade são as principais questões apontadas por quem ali trabalha diariamente.

Alguns deles estão a unir-se, a criar uma associação de moradores e ponderam mesmo vir a avançar com uma ação em tribunal contra o Estado português, afirmou à Lusa o dono de um estabelecimento situado na zona de Santa Catarina, que pediu o anonimato com medo de represálias.

O comerciante, agredido recentemente, contou que a rua foi “tomada por gangues de dezenas de miúdos que começam a fumar ganzas e a beber de manhã”, que “estão constantemente a ameaçar as pessoas e a assaltar”.

“Neste momento não estão porque nós, comerciantes, unimo-nos e, colocando em risco a nossa integridade física, os expulsámos daqui”, disse, escusando-se a especificar as medidas tomadas na sequência dos recentes desacatos ocorridos naquela zona.

“Tivemos de resolver o assunto por nós próprios. Estamos por nossa conta. Isto é uma espécie de terra de ninguém”, lamentou, acrescentando que “todos os apelos ao longo destes anos têm sido ignorados”.

A poucos metros, um outro comerciante, também agredido, relatou à Lusa que, por vezes, a PSP efetua detenções, mas que no dia seguinte “já estão na rua” de novo e autointitulam-se recorrentemente como os “donos da rua”.

“A gente só gostaria de ter policiamento para que as pessoas pudessem vir aqui na boa. A insegurança aqui é total. Não é nada seguro”, vincou.

Por seu turno, a presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, Carla Madeira (PS), garantiu estar “a acompanhar a situação com preocupação” e a trabalhar “na resolução do problema”.

A autarca lamentou, porém, que a decisão por parte do Ministério da Administração Interna (MAI) de instalar câmaras de videovigilância em zonas como Santa Catarina e Bica “esteja a demorar tanto tempo”.

Carla Madeira, que tem reunido com a PSP, disse ainda que tem havido um reforço no patrulhamento e alertou que “têm de existir mais queixas formais do problema”, referindo que “a maior parte dos comerciantes não apresentam queixa formal” às autoridades.

A presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia referiu também ter ouvido relatos de comerciantes que ponderavam recorrer a segurança privada.

“Ouvi de facto alguns verbalizarem essa decisão. Efetivamente, se fizeram, não me comunicaram”, notou.

Na quarta-feira, numa resposta escrita enviada à agência Lusa, o MAI avançou que a PSP, em articulação com a autarquia, “enviou uma proposta para instalação de um sistema de videovigilância na cidade de Lisboa ao gabinete do secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna, a quem compete autorizar”, que já foi “remetida à Comissão Nacional de Proteção de Dados para emissão de parecer, não vinculativo”.

Atualmente, este sistema de videovigilância existe apenas no Bairro Alto, “sendo que a proposta agora elaborada inclui diversas zonas da cidade, nomeadamente a zona de Santa Catarina”, refere o ministério.

Numa resposta escrita enviada à Lusa, a PSP recusa ter falta de meios nestas zonas, diz ter “por filosofia deslocar-se aos locais onde são reportados problemas de segurança pública” e apela para que os cidadãos reportem “os crimes de que são vítimas ou testemunhas”.

Sobre um eventual aumento de incidentes, a polícia salienta que “os índices de criminalidade nas zonas referidas têm-se mantido constantes, sendo que têm pontualmente ocorrido alguns picos, usualmente mediatizados em razão da atração turística destas zonas e que, naturalmente, recebem pronta resposta policial”.

“Os cidadãos suspeitos da prática de crimes são sempre referenciados pela polícia às autoridades judiciárias, tendo vindo alguns a ser submetidos à medida de coação de prisão preventiva”, reforça ainda a PSP.