Numa entrevista ao programa Panorama, da estação pública de televisão britânica BBC, que será divulgado hoje às 19:30 de Lisboa, Isabel dos Santos argumentou que "as autoridades angolanas embarcaram numa caça às bruxas muito, muito seletiva, que serve o propósito de dizer que há duas ou três pessoas relacionadas com a família dos Santos".
De seguida, no excerto que foi disponibilizado antes da transmissão da entrevista, Isabel dos Santos afirma: "Lamento que Angola tenha escolhido este caminho, penso que todos temos muito a perder".
A empresária argumenta que as empresas que lançou nos últimos 20 anos são competentes e geridas por bons profissionais, e rejeita a ideia de que o facto de ser filha do antigo Presidente de Angola é sinónimo de culpa.
"Olhando para o meu histórico, vê o trabalho que fiz e as empresas que construí, são certamente empresas comerciais", afirmou, acrescentando: "Há alguma coisa de errado numa pessoa angolana ter um negócio com uma companhia estatal? Penso que não há nada de errado, tem de perceber que não se pode dizer que por uma pessoa ser filho de alguém é imediatamente culpada, e é por isso que há muito preconceito", afirmou a empresária.
Questionada pelo entrevistador sobre se o facto de ser filha do José Eduardo dos Santos não deve obrigar a mais cuidado nos negócios, Isabel dos Santos respondeu: "absolutamente".
"Todos os meus negócios têm conselhos de administração extremamente bons, temos os melhores CEO [presidente executivo), os melhores COO [diretor financeiro], os melhores departamentos legais, e as pessoas são profissionais experientes, que trabalharam noutras empresas, e somos muito competentes", concluiu.
A divulgação da entrevista surge no dia seguinte a um grupo de jornalistas de investigação ter revelado mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de "Luanda Leaks", que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que estarão na origem da fortuna da família.
O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ), que integra vários órgãos de comunicação social, entre os quais os portugueses Expresso e SIC, analisou, ao longo de vários meses, 356 gigabytes de dados relativos aos negócios de Isabel dos Santos entre 1980 e 2018, que ajudam a reconstruir o caminho que levou a filha do ex-presidente angolano a tornar-se a mulher mais rica de África.
Durante a investigação, foram identificadas mais de 400 empresas (e respetivas subsidiárias) a que Isabel dos Santos esteve ligada nas últimas três décadas, incluindo 155 sociedades portuguesas e 99 angolanas.
As informações recolhidas detalham, por exemplo, um esquema de ocultação montado por Isabel dos Santos na petrolífera estatal angolana Sonangol, que lhe permitiu desviar mais de 100 milhões de dólares (90 milhões de euros) para o Dubai.
Revelam ainda que, em menos de 24 horas, a conta da Sonangol no Eurobic Lisboa, banco de que Isabel dos Santos é a principal acionista, foi esvaziada e ficou com saldo negativo no dia seguinte à demissão da empresária.
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