Madalena Pestana "destacou-se logo na sua estreia nos palcos, interpretando a emblemática Antígona, num espetáculo do grupo Primeiro Acto, uma interpretação que lhe valeu rasgados elogios", recorda Graça Fonseca.
"Através das diversas personagens que interpretou, o talento de Madalena Pestana deu um significado particular à expressiva ideia de José Saramago, quando este disse que 'a vida é breve, mas cabe nela muito mais do que somos capazes de viver'. Este é um dos privilégios de um ator e o legado de Madalena Pestana que nos cumpre, hoje, recordar", conclui a ministra da Cultura.
A atriz Madalena Pestana morreu na segunda-feira, em Lisboa, aos 70 anos, disse hoje à agência Lusa fonte próxima da família.
Nascida em Montelavar, Sintra, em novembro de 1949, foi uma das protagonistas do teatro independente, em Portugal, na década de 1970, uma "atriz-força da natureza", como a crítica a definiu, logo na estreia, com quase 20 anos, no papel de "Antígona", que também lhe valeu elogios de autores como José Cardoso Pires e Alves Redol.
Ao longo de quase uma década, segundo a base de dados do Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, o nome de Madalena Pestana surge em companhias independentes como Primeiro Acto e Grupo 4, mas sobretudo em A Comuna - Teatro de Pesquisa, integrada no núcleo fundador, a par de atores como João Mota, António Rama, Carlos Paulo, Francisco Pestana, João Guedes, Manuela de Freitas, Maria Emília Correia e Melim Teixeira.
Madalena Pestana fez parte do elenco de "Para onde is?", sobre Gil Vicente, peça que marca o nascimento de A Comuna, em 01 de maio de 1972.
Entrou em produções como "Feliciano e as Batatas", de Catherine Dasté, Prémio da Casa de Imprensa do Melhor Espectáculo Infantil, em 1972, nas criações coletivas "Brincadeiras" e "A Cegada", e em "A Ceia I" e "A Ceia II", sobre Bertolt Brecht, Gil Vicente, Antero de Quental, Vinicius de Moraes e Mário Dionísio, Prémio de Imprensa de Melhor Texto Teatral em 1974.
A estreia de Madalena Pestana no teatro remonta a julho de 1969, como protagonista de "Antígona", do dramaturgo francês Jean Anouilh, sobre a tragédia de Sófocles, espetáculo inaugural do Primeiro Acto, uma encenação de Armando Caldas, com música de cena de Jorge Peixinho.
"Uma revelação como atriz-força da natureza, cujo grito de liberdade ultrapassou as paredes do Primeiro Acto, convocou gente de todos os lados, por vezes incrédula ou fascinada, perante algo que parecia fora dos limites consentidos", recordou Eduardo Pedrozo, em 2007, na revista Sinais de Cena, da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro, com o Centro de Estudos de Teatro.
Na altura, Alves Redol (1911-1969), autor de "Fanga" e "Barranco de Cegos", a poucos meses da morte, destacou em Madalena Pestana uma intuição rara de atriz, no papel de Antígona. O escritor José Cardoso Pires (1925-1998), por seu lado, destacou nos protagonistas, "dois novos atores, Madalena Pestana e José Capela, (...) um esquema de interpretação muito mais válido do que o da maioria dos profissionais".
Madalena Pestana era irmã da antiga provedora da Casa Pia de Lisboa, Catalina Pestana (1946-2018), e foi casada com o escritor Nuno Bragança (1929-1985), o autor de "A Noite e o Riso", "Directa" e "Square Tolstoi".
O nome Maria Madalena Batalha Pestana é um dos 30 mil do Memorial aos Presos e Perseguidos Políticos da ditadura do Estado Novo, que se perpetua na página memorial2019.org, depois da exposição nos corredores da estação de metro Baixa/Chiado, em Lisboa.
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