Em entrevista à agência Lusa, o compositor referiu que a OML “produz anualmente 180 concertos, 90 orquestrais e outros tantos de música de câmara”, o que evidencia, no seu entender, uma “agilização de recursos humanos muito grande” e a sua enorme capacidade de “levar a música e a arte aos quatro cantos do país”.
“Esse foi um dos aspetos fundamentais [do desempenho do cargo de diretor artístico], estabelecer parcerias permanentes com muitos palcos e municípios fora de Lisboa. Foi através dessas parcerias, inclusivamente internacionais, que foi possível multiplicar a atividade da orquestra”, destacou o músico.
Com o incremento da atividade, “veio o incremento do público”, que “duplicou em quatro anos” e, desta forma, foi também possível duplicar o orçamento para a programação e tornar rentável a OML.
“Comecei com um orçamento de 250 mil euros, que geravam receitas muito inferiores. À saída, deixo um orçamento do dobro, que gera receitas superiores. Na prática, por cada euro que me dão para programar, devolvo 1,30 euros, portanto, o trabalho dos músicos da OML gera uma mais-valia. O mais importante é esta ideia de ter valorizado os nossos músicos”, sublinhou Pedro Amaral à Lusa.
Esse é, na visão do regente e compositor, o papel que “cabe ao diretor artístico numa orquestra”, se não quiser que os seus músicos desanimem: “oferecer-lhes valorização”.
“Oferecendo-lhes oportunidades de tocar a solo e valorizando cada músico de forma a que o todo seja cada vez melhor. Cruyff [treinador holandês apelidado como inventor do futebol moderno] dizia que, se derem tempo e espaço a um jogador mediano, ele fará coisas geniais. E eu penso o mesmo em relação ao músico: ao valorizá-lo individualmente, a orquestra torna-se mais orgânica”, comparou Pedro Amaral.
No entanto, quando chegou a diretor artístico da OML, em 2013, Pedro Amaral encontrou uma orquestra “muito desmotivada, a passar por uma grande crise, com dívidas ao fisco e à segurança social e músicos com cortes salariais de 20%”, pelo que o primeiro objetivo, juntamente com António Mega Ferreira, então diretor executivo da associação que gere a Metropolitana e as suas escolas (Associação Música - Educação e Cultura, AMEC), foi “endireitar o barco e fazer uma série de reformas”, na maneira de trabalhar e na relação com o público.
“Na parte artística, gostava de destacar a questão da divisão das temporadas. Porque, normalmente, as orquestras têm uma sala própria e, portanto, uma temporada única. Nós não temos uma sala e, portanto, o desafio foi construir uma temporada em três salas diferentes, não mais. Uma temporada barroca, no Museu Nacional de Arte Antiga, uma clássica, no [Teatro] Thalia e uma sinfónica no CCB. É deste entrecruzar de linhas temáticas que nasceu a temporada da Metropolitana, desde 2013, e a partir daqui foi fácil organizar a vida da orquestra, porque, com a organização da temporada, vem a organização da vida dos músicos”, recordou.
Nesse sentido, o maestro titular referiu que “o diretor é um gestor de recursos humanos” e que, permitir aos músicos organizar atempadamente a sua vida, “foi importante para a clareza do ponto de vista público”, além de se ter tornado mesmo na “pedra de toque” da orquestra.
Após a sua saída, o maestro vê o futuro da Metropolitana “da melhor forma possível”, uma vez que “tem uma grande equipa”, um novo diretor executivo, Miguel Honrado, que “saberá fazer uma gestão criteriosa” da formação e, como seu sucessor no cargo de diretor artístico, o maestro Pedro Neves, “a pessoa que em Portugal está mais bem preparada para o fazer”.
“Não tenho dúvidas de que a Metropolitana conhecerá fortes desenvolvimentos nos próximos anos”, afirmou.
A título pessoal, Pedro Amaral, compositor, já tem encomendado uma nova obra para a Orquestra Sinfónica do Porto – Casa da Música, que deverá estrear em maio, pelo que a partir de 01 de janeiro estará “muitíssimo empenhado em escrever e regressar à composição”.
“Esta necessidade de regressar ao recolhimento da escrita é, talvez, o principal fator que me move para sair da Metropolitana”, assumiu Pedro Amaral.
Nascido em Lisboa, em 1972, Pedro Amaral, é um dos músicos europeus mais activos da nova geração, como escreve a Casa da Música na sua biografia.
Iniciou estudos com Fernando Lopes-Graça, prosseguiu-os no Instituto Gregoriano e na Escola Superior de Música de Lisboa, onde conclui o curso de composição na classe do professor Christopher Bochmann.Prosseguiu a formação em Paris, com o compositor Emmanuel Nunes, no Conservatório Superior, no Eotvos Institute, com Peter Eotvos, na Hungria, e com Emilio Pomàrico, Scuola Civica de Milão, em Itália.
Na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, apresentou a tese sobre "Gruppen", de Karlheinz Stockhausen, compositor com quem trabalhou como assistente em diferentes projectos. Sobre "Momente", do mestre alemão do pós-Guerra, fez a sua tese de doutoramento. Em 2004, foi o primeiro compositor português a beneficiar da bolsa da Vila Médicis (Prémio Roma).
No seu percurso destacam-se composições como "Deux portraits imaginaires", "Paraphrase", "Densités II" e a sequência de "Etudes sur la permanence du geste", para diferentes conjuntos de câmara, o Qurateto de Cordas, "Transmutations pour Orchestre", entre outras obras. Em 2010, estreou em Londres a ópera "O Sonho", a partir de um drama inacabado de Fernando Pessoa.
Como regente, além da direção artística da Metropolitana e da direção de diversas orquestras portuguesas e estrangeiras, como convidado, Pedro Amaral foi maestro titular da Orquestra do Conservatório Nacional (2008/09) e do Sond’Ar-Te Electric Ensemble (2007/10).
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