Uma parte significativa da população daquele território palestiniano — há mais de oito meses palco de uma guerra de Israel contra o movimento islamita palestiniano Hamas – enfrenta atualmente um nível catastrófico de escassez de alimentos e condições de quase inanição, indicou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, numa conferência de imprensa em Genebra, sede da agência especializada da ONU.

“Apesar das informações que dão conta de um aumento da distribuição de alimentos, nada atualmente prova que os mais necessitados estejam a receber alimentos em quantidade e qualidade suficientes”, sublinhou.

Perante esta situação, a OMS e os seus parceiros tentaram reforçar os serviços de nutrição na Faixa de Gaza, explicou o responsável.

“Mais de oito mil crianças com menos de cinco anos foram diagnosticadas e tratadas por subnutrição aguda, 1.600 das quais sofrendo de subnutrição aguda grave”, salientou.

A subnutrição aguda grave está muitas vezes associada a complicações médicas e é uma das principais causas de morbilidade e mortalidade das crianças.

No entanto, devido à insegurança e à falta de acesso ao território, só dois centros de estabilização para doentes gravemente subnutridos conseguem atualmente funcionar, referiu o diretor-geral da OMS.

“A nossa incapacidade para fornecer serviços de saúde em total segurança, combinada com a falta de água potável e de saneamento, aumenta consideravelmente o risco de subnutrição das crianças”, afirmou.

“Já se registaram 32 mortes atribuídas à subnutrição, 28 das quais de crianças com menos de cinco anos”, acrescentou.

Israel declarou a 7 de outubro do ano passado uma guerra na Faixa de Gaza para “erradicar” o Hamas depois de este ter, horas antes, realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando 1.194 pessoas, na maioria civis.

Desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel, o Hamas fez também 251 reféns, 120 dos quais permanecem em cativeiro e 41 morreram entretanto, segundo o mais recente balanço do Exército israelita.

A guerra, que hoje entrou no 250.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza pelo menos 37.202 mortos e 84.932 feridos, além de cerca de 10.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros após oito meses de guerra, de acordo com números atualizados das autoridades locais.

Tedros Ghebreyesus, biólogo e especialista em saúde pública, destacou também a crescente crise sanitária que afeta a Cisjordânia ocupada: desde 7 de outubro, a OMS registou 480 ataques contra os serviços de saúde naquele território palestiniano, dos quais resultaram 16 mortos e 95 feridos.

A OMS sustentou também que o desenvolvimento de “colonatos ilegais” à luz do direito internacional está a dificultar o acesso da população palestiniana a cuidados de saúde.

“Na Cisjordânia, tal como na Faixa de Gaza, a única solução é a paz – o melhor remédio é a paz”, declarou o responsável máximo da OMS.