"Acabo de assinar a segunda — e desejo, e todos desejam, a última — renovação do estado de emergência, para vigorar até às 24 horas do dia 2 de maio", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, numa comunicação ao país, a partir do Palácio de Belém, em Lisboa.

Marcelo acrescentou, depois, que "estamos a ganhar esta segunda fase". Fase que, na última comunicação ao país neste âmbito, caracterizou como a da "prevenção".

O chefe de Estado deu, de seguida, três razões para a terceira renovação do estado de emergência:

1. "As nossa tarefas nos lares precisa de mais algum tempo: detetar, despistar, isolar, preservar é importante para quem lá vive mas também é importante para quem está cá fora. Consolidar essa tarefa em clima de contenção ainda é imperativo".

2. "Somos o quarto país da Europa que mais testa por número de habitantes, mas ainda assim número fica abaixo dos 20 mil ou 30 mil que admitia há uma quinzena. Temos de continuar a estabilizar o número diário de internamentos em geral, e nos cuidados intensivos, em especial, por forma a assegurar que o nosso Serviço Nacional de Saúde se encontrará em condições de responder à evolução do surto em caso de aumento progressivo dos contactos sociais. Uma coisa é conviver com o vírus, em atividade aberta, sabendo que a situação está controlada e que existe um sistema de vigilância e proteção adquiridas, outra bem diferente é provocar recuos e recaídas já experimentados em sociedades que conhecemos".

3. "Por ventura, a mais relevante. A presente renovação está pensada de tal modo que dá tempo e espaço ao governo para definir critério, isto é, estudar e preparar para depois, no fim de abril, a abertura gradual da sociedade e da economia, atendendo a tempo, a modo, a territórios, a áreas e setores. Com uma preocupação essencial de criar segurança e confiança nos portugueses para que possam sair de casa, reatando paulatinamente a sua vida, sem se correr o risco de passos precipitados ou contraproducentes".

Marcelo Rebelo de Sousa deu depois "uma palavra" para os da sua idade, acima dela ou para os doentes mais graves: "não tenham receio".

Dirigiu-se ainda aos mais jovens — "admiro a vossa capacidade de reagir ao maior choque da vossa vida" — e aos autarcas — "serei o primeiro a testemunhar como o vosso papel de proximidade foi essencial".

Para o fim ficou a resposta a duas dúvidas: “Será que maio poderá corresponder às expectativas suscitadas? Será possível suportar por algum tempo mais tamanhas privações neste caminho a que tantos estrangeiros chamam o milagre português?".

"Tudo dependerá do que conseguirmos até ao fim de abril. Isso será medido dentro de duas semanas e do bom senso com que gerirmos abertura sedutora, mas complexa", respondeu.

"Confiança" é a palavra-chave, destacou Marcelo. "Uma crise na saúde bem encaminhada e uma reabertura bem ponderada dão força à economia e à sociedade, do emprego ao consumo, do investimento ao turismo, da cultura à comunicação social", disse.

Mas "uma crise de saúde menos bem controlada e uma abertura menos bem calculada podem criar problemas à vida, à saúde e, portanto, à sociedade e à economia".

O Presidente da República disse que no seu espírito "conjugam-se a compreensão do dever a cumprir e muita esperança”, mas a "tal terceira fase [que referiu há duas semanas], a de maio, ter de ser o mês da ponte entre o dever e a esperança".

Se o "cansaço aperta" e se tal convida a "facilidades tentadoras", "temos de lhes resistir, temos de evitar a desilusão de, por precipitações em abril, deitarmos a perder maio e ainda o que se vai seguir".

"É verdade que bastante está a ser ganho", assegura Marcelo, mas "ainda falta o mais difícil". "Como diz o povo, nós não queremos morrer na praia", disse.

"Será este um milagre como tantos lá fora dizem?", questionou.

"É bom que eles pensem que sim; nós sabemos que não. Não é um milagre, é fruto de muito sacrifício, de nestas fases cruciais, quem tem responsabilidades políticas ter ouvido os especialistas, ter agido em unidade, ter feito deste combate o combate da sua vida. E, desde logo, o primeiro-ministro e com ele o governo, como é justo reconhecer, mas também o presidente da Assembleia da República, a AR toda ela, os líderes partidários, os partidos políticos, os parceiros económicos e sociais. Mesmo os que hoje divergem, no primeiro e decisivo momento não se opuseram. E é isso que ficará para a história".

Esse "milagre", acrescenta o Presidente da República, é ainda "fruto também da dedicação daqueles que há mês e meio, ou mais, demonstram que não tem preço dedicar tudo, mas mesmo tudo, a salvar vidas ou a ajudar os que as vidas salvam e garantir o básico do nosso quotidiano".

"É fruto de todos nós, da solidariedade de todos, com disciplina, com zelo, com determinação e com coragem", continuou.

"Se isto é um milagre, então nós, povo português, somos um milagre vivo há quase nove séculos. Se isto é um milagre, o milagre chama-se Portugal", e termina.

O estado de emergência vigora em Portugal desde o dia 19 de março e, de acordo com a Constituição, não pode ter duração superior a 15 dias, sem prejuízo de eventuais renovações com o mesmo limite temporal.

Também hoje, na Assembleia da República, o primeiro-ministro, António Costa, afirmou esperar "que esta seja a última vez" que se decreta o estado de emergência em Portugal.

Portugal regista hoje 629 mortos associados à covid-19, mais 30 do que na quarta-feira, e 18.841 infetados (mais 750), indica o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS).