"Não sei se o voluntariado não devia chegar mesmo aos parceiros políticos, económicos e sociais, a todos os níveis. Era uma forma interessante de, para além do voluntariado cívico que cumprem, terem um voluntariado social complementar – que muitos dentro deles vão exercitando, a nível local, sem conhecimento público", declarou.
Marcelo Rebelo de Sousa falava na sede da Cruz Vermelha Portuguesa, em Lisboa, na cerimónia de lançamento de uma nova plataforma online, "Tempo Extra", que foi apresentada como forma de intermediar organizações sem fins lucrativos e empresas, para estas encaminharem – em termos que não foram detalhados – os seus trabalhadores em fase de passagem à reforma para voluntariado.
Numa intervenção no final da cerimónia, o chefe de Estado defendeu que o voluntariado deve ser encarado como "uma responsabilidade comunitária", como "uma tarefa cívica" que faz "parte da vida normal, corrente" dos portugueses: "Esse é o salto qualitativo, que é um salto cultural, de cultura cívica, que tem de ser dado".
"Quanto mais empresas, melhor, quanto mais instituições públicas, melhor", disse. "Somos muitos. Teremos de ser muitos mais", apelou.
Marcelo Rebelo de Sousa congratulou-se com "a intervenção da Marinha Portuguesa", na qualidade de Comandante Supremo das Forças Armadas, mas afirmou que "é preciso ir mais longe, é preciso sensibilizar as escolas, sabendo que é difícil".
Segundo o Presidente, professores, pessoal não docente, alunos, devem compreender "que esse tempo extra deve ser como que um tempo curricular e não extracurricular", que "faz parte da essência da escola, na construção, na formação daqueles que por lá passam, todos".
Esta cerimónia juntou, entre outros, os presidentes da Cruz Vermelha Portuguesa, Francisco George, e da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo, e Isabel Jonet, dirigente da associação de solidariedade social Entreajuda, que desenvolveu a plataforma online "Tempo Extra".
No seu discurso, o chefe de Estado agradeceu a Isabel Jonet pelo seu "infatigável dinamismo" e enalteceu o papel dos voluntários portugueses, dizendo que têm aumentado silenciosamente, "ninguém sabe ao certo quantos são", e que "por aí, pelo voluntariado, passou e passa muita da resiliência social a crises e às suas saídas longas e penalizadoras".
"O voluntariado tem sido, talvez, a mais surpreendente e poderosa expressão da emancipação da nossa tradicionalmente débil sociedade civil. Éramos poucos, muito poucos, nos anos 60 do século passado. Aumentámos nos anos 70. Mas, a verdadeira revolução ocorreu em menos de três décadas", sustentou.
Depois, Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se em tom crítico ao debate político em Portugal, considerando que muitas vezes está "à margem daquilo que está a ser feito no terreno".
"Dir-se-ia que há dois países. O país empenhado, e bem, no debate das ideias, das soluções, das propostas e, de vez em quando, na convergência sobre elas – raramente, mas de vez em quando. E, depois, o país que vai fazendo. Não quer dizer que o país que debate politicamente não vá fazendo, mas eu não tenho a certeza de que conheça de perto muito daquilo que se está a fazer", acrescentou.
Questionado, à saída desta cerimónia, se a ação de limpeza da floresta em que vai participar com o primeiro-ministro, António Costa, é um exemplo de voluntariado, o Presidente da República concordou que pode ser vista como "um aspeto do voluntariado político e social, porque se trata de agir numa área socialmente muito relevante para a vida das populações".
"Aquilo que vamos fazer, o senhor primeiro-ministro e eu próprio, vários membros do Governo por todo o continente, é – através de um gesto simbólico, bem entendido – dizermos que estamos lá no terreno, onde estão há muito tempo escolas, associações, fundações, movimentos, autarquias locais, a plantar, a limpar, a prevenir, a organizar, a apostar no futuro. É o que nós vamos, simbolicamente, acompanhar, apoiar e agradecer", completou.
Última atualização às 16:07
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