No dia em que Portugal registou o maior número de óbitos e de novos casos de covid-19, a pergunta do jornalista Vítor Gonçalves, no programa Grande Entrevista, da RTP3, foi clara: "Está em cima da mesa fechar de imediato as escolas?". A resposta da ministra também não foi menos clara: "Sim".

A situação "agravou-se". Quem o diz é a própria governante, que enfatizou que quando as últimas medidas foram tomadas tal não estava previsto. Por isso, a questão que se impunha era: a decisão a tomar será por causa da variante do Reino Unido? "É exatamente essa a questão", respondeu Marta Temido.

"Há momentos, no regresso do primeiro-ministro de reuniões no exterior, fizemos uma reunião por Zoom e estivemos a discutir vária informação que hoje, ao final da tarde, o grupo de peritos, de epidemiologistas e técnicos de saúde que habitualmente connosco reúne no Infarmed, nos transmitiu", afirmou.

Segundo Marta Temido, a reunião de hoje com os especialistas trouxe "algumas alterações" às estimativas anteriores, o que "obrigará a novas reflexões sobre medidas a tomar" para controlar a pandemia da covid-19.

"Essas medidas que foram hoje acertadas entre alguns ministros como possíveis, amanhã serão discutidas em Conselho de Ministros e depois serão transmitidas pelo primeiro-ministro aos portugueses", afirmou Marta Temido.

Questionada sobre se o eventual encerramento das escolas poderá abranger os vários níveis de ensino, respondeu que está será uma "discussão pormenorizadamente feita em Conselho de Ministros, porque há vários aspetos que têm de ser ponderados".

A ministra da Saúde salientou que a situação da pandemia em Portugal agravou-se nos últimos dias, em grande medida devido à variante inglesa do novo coronavírus, considerada mais facilmente transmissível.

Segundo disse, na semana passada, na reunião no Infarmed, o Instituto de Saúde Pública Ricardo Jorge apresentou as sequenciações de amostras positivas de SARS-CoV-2 enviadas por laboratórios do país, com uma "percentagem atribuível à variante inglesa de 8%".

"Nós, neste momento, estimamos que já possam ser 20% os casos de infeção que são atribuíveis a esta variante e estima-se que possa atingir, pelo seu poder replicativo, 60% dentro de mais uma semana, até final do mês, o que muda muita coisa", referiu Marta Temido.

A ministra da Saúde salientou igualmente que o Governo aumentou de 400 para 1100 o número de pessoas que fazem rastreios.

O número de óbitos e a capacidade de tratamento dos hospitais 

Vítor Gonçalves confrontou a governante com o número de óbitos preocupante das últimas semanas. De março a dezembro morreram por covid-19 em Portugal 6.906 pessoas, sendo que nos primeiros 19 dias de janeiro 2.559 perderam a vida para o novo coronavírus. Ou seja, neste mês registaram-se um terço dos óbitos que se verificaram em 10 meses.

O que explica este número? Na opinião da ministra da Saúde a "complexidade da doença, a idade dos infetados e as comorbilidades". Jornalista salientou que esses fatores já existem desde o início da pandemia, mas Marta Temido afirmou que "o número de casos não era o mesmo".

Confrontada depois com a possibilidade de os hospitais já não terem capacidade para responder face ao número doentes a que têm de responder, indicou que "não acredita" nessa possibilidade.

"Não acredito nisso. Acredito que os profissionais de saúde — em quem confio — que deixassem isso acontecer", salientou.

Assumiu, todavia, que os hospitais estão no limite.

“Os profissionais de saúde têm nos levado a acreditar que conseguem sempre fazer mais um pouco, mas neste momento sinto que estamos muito próximo do limite e que há situações em que estamos no limite”, afirmou Marta Temido na RTP3.

“Quando entramos na segunda vaga, em novembro, tínhamos afetas à covid-19, em ambiente do Serviço Nacional de Saúde, cerca de 1.145 camas e hoje temos cinco mil”, assegurou Marta Temido.

A ministra frisou ainda que vários hospitais da Grande Lisboa estão numa “situação muitíssimo complexa”, o que tem obrigado à reutilização dos meios disponíveis, à instalação de mais camas, ao recurso a outros setores da saúde, ao reforço do número de testes e à utilização de novas metodologias de rastreio de casos de covid-19.

“Neste momento, os números que enfrentamos são poderosíssimos com os quais nunca julgamos vermo-nos confrontados, embora a estimativa seja que esta tendência vai se agravar nos próximos dias” incluindo o número de mortes, afirmou Marta Temido.

De acordo com a ministra, o Governo utilizou “todas as respostas disponíveis” para responder à pandemia, começando, em abril, por “desenhar contratos para convenção, aos quais o setor privado poderia aderir em caso de necessidade de apoio ao Serviço Nacional de Saúde” (SNS), o que não se mostrou necessário na primeira vaga.

Em novembro, com o recrudescimento da situação epidemiológica, foi necessário ativar várias convenções na região Norte, adiantou Marta Temida, para quem “se não tivesse sido a colaboração de alguns grupos privados e do setor social, de hospitais-fundação e da União das Misericórdias Portuguesas, não teria sido possível vencer o mês de novembro”.

“Mais recentemente, temos procurado na Região de Lisboa e Vale do Tejo a celebração de todas as convenções possíveis para a prestação de cuidados de covid e não covid. Todos os dias procuramos aumentar a nossa capacidade de camas pagas pelo SNS”, garantiu a ministra.

Segundo disse, atualmente existem 52 acordos para apoio ao SNS, que podem incluir várias unidades de saúde do mesmo grupo, o que significa cerca de 850 camas dos setores privado e social e hospitais militares.

No caso concreto da Região de Lisboa e Vale do Tejo, foram formalizados quatro acordos para a prestação de cuidados covid com quatro instituições diferentes e 13 acordos para a área não covid, o que, no total, representa 165 camas que já estão a ser utilizadas.

“Além disso, temos o recurso aos hospitais militares e ao centro médico de Belém que, desde a primeira vaga, está a prestar apoio, num total de mais 120 camas”, disse a ministra, ao salientar que a exaustão e a falta de profissionais de saúde é o “grande problema”.

“Estamos a estudar mecanismos de reforço da disponibilidade dos profissionais de saúde, que podem passar pelo reforço da sua disponibilidade em termos financeiros”, adiantou.

Portugal registou quarta-feira 219 mortes relacionadas com a covid-19 e 14.647 novos casos de infeção com o novo coronavírus, os valores mais elevados desde o início da pandemia, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS).

O boletim revela também que estão internadas 5.493 pessoas internadas, mais 202 do que na terça-feira, das quais 681 em unidades de cuidados intensivos, ou seja, mais 11, dois valores que também representam novos máximos da fase pandémica.

O número de internamentos está a subir desde o dia 1 de janeiro, dia em que estavam 2.806 pessoas internadas.

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