Em entrevista conjunta ao Público e à Rádio Renascença, a ministra da Saúde, Marta Temido, fez um balanço da situação pandémica no país, frisando que a atitude da população nos próximos tempos pode fazer a diferença para achatar a curva e, consequentemente, diminuir a pressão no SNS.
Contudo, não se avizinham dias fáceis e pode surgir um confinamento mais rigoroso. "Estamos a aguentar-nos, a procurar quebrar a curva. Dezembro vai ser necessariamente um mês muito difícil e um mês particularmente exigente para todos", lembrou Marta Temido.
Questionada sobre as camas existentes em Unidade de Cuidados Intensivos, a ministra da Saúde referiu que "a situação é muito grave, mas felizmente o número de camas de cuidados intensivos de que dispomos no SNS tem alguma capacidade de ajustamento e isso significa que tem sido possível diariamente, semanalmente, graças ao esforço dos profissionais de saúde, graças ao esforço dos dirigentes, encontrar capacidade para acomodar aquilo que são as necessidades".
Quanto a números específicos, Marta Temido adiantou que "no final deste mês abrirão mais 28 camas no centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, e abrirão mais 11 camas no Hospital Fernando da Fonseca".
Lembrando que "o número de camas de cuidados intensivos de que o país dispõe tem aumentado", a ministra frisou que existem números que servem de referência para analisar a situação. Desta forma, existiam 431 camas em março de 2020, falando em "capacidade total".
"Depois fomos fazendo progressivas expansões. Algumas foram para responder àquilo que era ainda a incerteza e que recorreram do adiamento e do cancelamento e da adaptação de espaços. Outras foram camas que se tornaram em camas definitivas, porque o país tinha um número de camas de cuidados intensivos que era inferior à maioria dos outros e portanto tem feito esta adaptação. E hoje aquilo que sabemos é que podemos expandir, no limite máximo, até cerca de mil camas. Mas este número é já com prejuízo à resposta a outras áreas de atividade", advertiu, afirmando que deste valor "só estão excluídas aquelas que são resposta a cuidados intensivos coronários, queimados, neonatologia", o que representa um número reduzido.
"Nós neste momento estamos já numa situação que posso dizer que é complexa, grave e que exige uma gestão diária de grande esforço pelas unidades de saúde e de grande articulação entre as unidades de saúde. E estamos com cerca de 500 internados em UCI. E portanto é natural que este esforço tenha um significado cada vez mais impactante em termos daquilo que é a necessidade de desprogramação de outras áreas de atividade assistencial", afirmou.
Sobre o cancelamento total da atividade não urgente dos hospitais, tal como aconteceu na primeira vaga, a ministra acentuou que "estamos num momento diferente e portanto o esforço será sempre o de preservar o mais possível o equilíbrio entre as respostas à doença covid e à doença não covid".
"Concretamente, por exemplo, na região do Algarve, neste momento a atividade assistencial mantém-se dentro daquilo que são as rotinas normais, na medida em que felizmente a situação epidemiológica da região é muito distinta da do Norte. Teremos de ir avaliando diariamente e semanalmente com as instituições e as regiões", disse Marta Temido.
No que diz respeito aos confinamentos pontuais como agora se vivem, a ministra da Saúde referiu que o objetivo "foi procurar o melhor equilíbrio possível entre a necessidade sanitária de conter a transmissão da doença e a necessidade social de preservar postos de trabalho, de preservar a aprendizagem das pessoas, de preservar algum equilíbrio psicológico, afetivo, social".
"Mas isso depende de cada um de nós ter a adopção de comportamentos compatíveis com o momento que é de uma extraordinária gravidade e portanto não podemos descartar a necessidade de ter de tomar medidas mais restritivas se isso acontecer, mas daqui até lá continuamos empenhadamente a fazer o possível por reforçar as respostas do SNS, identificar cadeias de transmissão, interromper cadeias de transmissão, avaliar todos os dias como está a evoluir o Rt, o número de novos casos, a utilização de cuidados intensivos, a utilização de serviços de cuidados de saúde primários, para a resposta à covid, as outras respostas, as listas de espera, os rastreios e ao mesmo tempo esperamos que cada um faça a sua parte", reforçou.
Neste sentido, a ministra referiu que agora é necessário "procurar quebrar a curva", embora o processo até lá seja moroso.
"Sob o ponto de vista da saúde, é muito simples dizer a toda a sociedade vamos todos para casa, fechem as portas, e deixem-se ficar até aparecer a vacina. Isto não é possível. Nenhum ministro da saúde pode decidir isto sem cuidar dos impactos que resultariam de uma decisão destas na saúde mental, na economia, na sobrevivência. A saúde há muito tempo que não é só a saúde, é tudo o que está à sua volta e esta pandemia veio mostrar isso", explicou.
Todavia, com este estado de emergência, deve-se esperar que "consigamos baixar mais a curva e baixar o número de novos casos por dia. Se conseguirmos fazer isso conseguiremos dar um primeiro passo".
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