Em conferência de imprensa na sequência da divulgação do boletim que dá conta da propagação do surto de covid-19 em Portugal, Marta Temido salientou que “estamos com uma taxa de letalidade de 2%, portanto ligeiramente superior à última referida”. No que diz respeito a pessoas com mais de 70 anos, “a taxa está situada nos 8,1%“.

"Temos 89% de doentes em casa", referiu, acrescentando ainda que, segundo o boletim, estão 486 pessoas internadas, 138 delas nos Cuidados Intensivos.

"Tomámos agora conhecimento do falecimento de um menino de 14 anos no Hospital de São Sebastião, em Santa Maria da Feira. Trata-se de um caso cuja causa de óbito está ainda em investigação. Esta, contudo, um doente de Covid-19 e é um caso que não está ainda refletido neste boletim", referiu.

Segundo os dados no boletim, Portugal registava até hoje 119 mortes associadas à Covid-19, mais 19 do que no sábado, e 5.962 infetados (mais 792). Com a confirmação da ministra os óbitos sobem, assim, para 120.

Marta Temido procurou sensibilizar que "o distanciamento social serve de pouco se o nosso comportamento não se disciplinar. Não podemos confiar na sorte", disse.

"Volto a frisar que continuamos a estimar um número muito elevado de infeção por Covid-19 e precisamos da ação de todos para diminuir o número de infetados e o número de vítimas", acrescentou.

"Neste domingo, a nossa preocupação central foca-se nas estruturas residenciais para idosos, sejam elas unidades de cuidados continuados integrados, pertencentes à rede nacional, sejam elas lares privados. É urgente que todos se preparem e respondam disciplinadamente perante um casos suspeito", reforçou. "As direções técnicas destas unidades têm um papel essencial", aplicando as recomendações da DGS de distanciamento social.

Neste sentido, Marta Temido referiu a importância de os equipamentos nos lares — camas, cadeirões, cadeiras — estarem à distância adequada, bem como a necessidade de os refeitórios partilhados permitirem que as pessoas estejam a uma distância de segurança. Nestes locais, os utentes devem ter circulação reduzida.

A ministra da Saúde pediu ainda que, identificado um caso suspeito, o isolem, na presença de sintomas como "febre, tosse, falta de ar e contactem um médico para avaliação clínica".

Quanto aos trabalhadores destes locais, Marta Temido referiu que é importante que "estejam organizados em equipas, sem contactos entre si".

"Dou um exemplo: os trabalhadores A e B atendem os utentes do piso 1. Os trabalhadores C e D atendem os utentes da Ala Norte. Ou os trabalhadores E e F os quartos 1, 2 e 3. É preciso ter estes cuidados na organização do trabalho", realçou.

Além destes cuidados, é também importante que os trabalhadores, antes de iniciarem os turnos, verifiquem se têm febre ou outros sintomas e "garantam que as medidas base de higiene — lavagem das mãos, não tossir ou espirrar para cima dos outros — são aplicadas e que há um esforço redobrado de higienização de objetos, superfícies, locais".

Marta Temido referiu também que os testes foram alargados a todos os casos suspeitos, trabalhadores e utentes, explicando de seguida o que fazer na eventualidade de casos positivos.

"Os casos confirmados para Covid-19 e os não confirmados têm de ser fisicamente separados", referiu. Contudo, a estrutura do local onde surgem os casos podem ter ou não condições para tal. "Se não houver condições, têm de encontrar espaços alternativos na comunidade. É necessário garantir equipas de suporte a ambos os locais", disse. Para dar resposta, podem ser pedidos voluntários. "Hoje, como nunca, a solidariedade é essencial e não queremos, não podemos, deixar ninguém abandonado à sua sorte".

Por fim, Marta Temido deixou uma nota sobre o novo modelo de abordagem ao doente Covid-19. "O Trace Covid é um sistema que permite o registo de todos os utentes e o seu seguimento durante a sua doença. Estamos obviamente com um sistema que foi posto no terreno, mas a ser melhorado e afinado. Este sistema permite apoiar os médicos, os enfermeiros, os profissionais de saúde que seguem os utentes Covid-19, onde quer que eles estejam", apontou.

De seguida, a ministra deixou um apelo aos doentes que estão no domicílio, em auto-cuidados, reforçando a necessidade de estarem isolados e de terem todas as medidas de proteção com os outros que estão à sua volta, de medirem a temperatura e manterem a autovigilância dos sintomas. Contudo, se sentirem um agravamento da doença, os utentes devem contactar o SNS24 e o INEM para situações graves.

Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, também presente na conferência, referiu que o surto de Covid-19 não vai durar uma quinzena ou dois ou três meses, mas o tempo que tardar até haver uma vacina, e que os portugueses têm de continuar mobilizados.

"Os portugueses têm de entender que não estamos a terminar nada, estamos só a iniciar um percurso, depende de nós contrariar a atividade de um vírus que é extremamente inteligente, extremamente agressivo, quer na forma como se transmite, quer na forma como pode originar doença grave. Não podemos desmobilizar", disse.

Os primeiros casos confirmados foram registados no dia 2 de março e o país encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até às 23:59 de 02 de abril.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 640 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 30.000.

Dos casos de infeção, pelo menos 130.600 são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

Vários países adotaram medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena e o encerramento de fronteiras.

Onde posso consultar informação oficial?

A DGS criou para o efeito vários sites onde concentra toda a informação atualizada e onde pode acompanhar a evolução da infeção em Portugal e no mundo. Pode ainda consultar as medidas de segurança recomendadas e esclarecer dúvidas sobre a doença.

Quem suspeitar estar infetado ou tiver sintomas em Portugal - que incluem febre, dores no corpo e cansaço - deve contactar a linha SNS24 através do número 808 24 24 24 para ser direcionado pelos profissionais de saúde. Não se dirija aos serviços de urgência, pede a Direção-Geral de Saúde.