“A barragem ficou cheia esta terça-feira e começou a descarregar” no próprio dia, tendo as comportas sido fechadas hoje de manhã, explicou à agência Lusa o presidente da Associação de Regantes do Vale do Sorraia, José Núncio.
A albufeira acabou por “descarregar um caudal importante” durante a noite, devido às “afluências todas que vieram de repente de Portalegre e é natural que, agora, vá descarregando de vez em quando mais umas ‘goladas’ porque aquilo [o sistema de comportas] é automático”, acrescentou.
Esta barragem, que comporta 205 milhões de metros cúbicos no pleno armazenamento e serve apenas para a rega, estava com menos de metade dessa água no fim de semana, tendo enchido rapidamente devido às chuvas registadas nos últimos dias no distrito de Portalegre.
“Houve uma afluência extraordinária, mesmo em termos de velocidade, do que choveu na zona de Portalegre, de Monforte, que é tudo bacia do Maranhão e isso é que provocou [o enchimento] tão rápido”, argumentou José Núncio.
Que a albufeira receba “uma descarga grande é normal acontecer”, segundo o representante.
“O que não é normal acontecer é que no domingo estávamos a 40% [de enchimento] e na terça-feira estávamos a descarregar”, destacou.
Segundo o presidente da associação, que representa 1.800 regantes, dos concelhos alentejanos de Avis e Ponte de Sor e ribatejanos de Coruche, Benavente e Salvaterra de Magos, a situação, antes da chuvada de terça-feira, até estava calma.
“Isto estava tudo calmo, quando foram os avisos estávamos relativamente confortáveis. Não estávamos a contar era que fosse tão de repente, estávamos a contar que elas [barragens] iam encher, com certeza, mas não era em dois dias”, frisou.
Esta tarde, segundo José Núncio, é previsível que a Barragem do Maranhão volte a abrir “um bocadinho mais” as comportas, para libertar mais um pouco de caudal, mas, se não chover muito mais na zona de Portalegre e nos concelhos do norte do distrito, “é natural que agora estabilize mais”.
A chuva intensa e persistente que caiu na madrugada de terça-feira causou mais de 3.000 ocorrências, entre alagamentos, inundações, quedas de árvores e cortes de estradas, afetando sobretudo os distritos de Lisboa, Setúbal, Portalegre e Santarém.
No total, há registo de 83 desalojados, segundo a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), e o mau tempo levou também ao corte e condicionamento de estradas e linhas ferroviárias, que têm vindo a ser restabelecidas.
Na zona de Lisboa a intempérie causou condicionamentos de trânsito nos acessos à cidade, situação que está regularizada na maior parte dos casos. Em Campo Maior, no distrito de Portalegre, a zona baixa da vila ficou alagada e várias casas foram inundadas, algumas com água até ao teto.
Segundo a ANEPC, estão “cinco planos municipais de emergência ativos”, quatro no distrito de Portalegre e um em Santarém, mantendo-se em estado de alerta amarelo os planos especiais de emergência para as bacias dos rios Tejo e Douro devido ao risco de cheias.
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