O livro “Maus-Tratos a Pessoas Idosas”, que é apresentado na terça-feira, reúne trabalho de vários autores e inclui temas que vão desde a tipologia dos maus tratos, estratégias de prevenção, deteção e intervenção, violência em contexto familiar e institucional, envelhecimento das pessoas com deficiência até ao suicídio nos mais idosos.
Em declarações à agência Lusa, um dos coordenadores do livro apontou que a obra pretende ser não só um manual que consciencialize e sensibilize para este problema, mas também que ajude a sinalizar e a intervir nas mais variadas áreas.
De acordo com Mauro Paulino, os maus tratos contra os idosos são um fenómeno que vive do silêncio, “à semelhança do que acontece com outras manifestações de violência”.
“Há aquilo que nós chamamos de fenómeno icebergue. Muitos dos casos estão no silêncio, seja por receio da vítima, seja pelo silêncio das pessoas que sabem destas situações, mas não as denunciam”, apontou, sublinhando que os maus tratos não são uma realidade exclusiva nas famílias e destacou que “também há maus tratos em contexto institucional”.
“Os maus tratos em contexto institucional são um tema mais recente, porque na consciência social, se colocamos um idoso numa instituição, a ideia é que lá ele seja bem cuidado e bem tratado”, explicou, acrescentando que a sociedade está mais desperta para quando os maus tratos acontecem na família.
Mauro Paulino apontou que a violência institucional contra os idosos pode traduzir-se na precariedade da assistência, medicação excessiva para os idosos estarem menos ativos e darem menos trabalho, desnutrição, desidratação, falta de higiene ou mesmo situações de idosos amarrados a camas.
Por oposição, a violência familiar tem uma expressão mais individualizada, tanto da parte da vítima como do agressor.
Defendeu que a fiscalização é fundamental e sublinhou que há cada vez mais a noção das várias formas de violência e de como podem ser identificadas.
“Ficamos muito presos à ideia de que os maus tratos a pessoas idosas são apenas os maus tratos físicos ou então questões financeiras e de exploração material e nós chamamos a atenção também para os maus tratos psicológicos que muitas vezes são associados à componente física, mas também ao não respeito pela dignidade”, apontou, acrescentando que muitas vezes também há uma relação com situações de negligência e abandono.
Mauro Paulino salientou que os autores do livro sentiam duas grandes lacunas, entre material pouco atualizado e disperso, destacando que a obra traz “duas grandes vantagens”: capítulos devidamente atualizados em termos de referências e toda a matéria devidamente compilada.
Por outro lado, destacou que o livro inclui grelhas que tanto os profissionais como os familiares podem usar de modo a fazerem um diagnóstico e a perceber a diferença entre uma situação acidental ou um caso com dolo.
Dá como exemplo o capítulo referente ao enquadramento jurídico-penal, explicando que serve para ajudar os profissionais a perceber o que é que um tribunal precisa de entender sobre o que se está a passar e assim “conseguir mais condenações ou pelo menos mais elementos de prova para que a investigação criminal avance”.
“Este livro traz grelhas, traz tabelas, ferramentas, traz inventários de instrumentos e de metodologias que podem e devem ser utilizados por quem lida com estas problemáticas, com visão de reação, mas também de prevenção”, adiantou.
Destacou que o livro tem uma “visão completamente pragmática virada para a sensibilização e identificação, mas também para o tratamento deste tipo de violência, com modelos de intervenção, instrumentos de deteção e de avaliação que são fundamentais aos profissionais e cuidadores”.
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