Com bandeiras laranjas da JSD e azuis da JP, os jovens concentraram-se em frente à Câmara Municipal Lisboa, nos Paços do Concelho, numa manifestação “pela democracia e pela liberdade”, com diversos cartazes contra Fernando Medina, destacando uma faixa branca com “#medinaout”.
Além dos cartazes e palavras de ordem como “Medina, anda cá que eu dou-te uns dados bem dados” e “Ó meu Santo António | O Medina proibiu as sardinhas | Mas já com o Putin | É tudo sem espinhas”, o protesto culminou na entrega, na receção da Câmara Municipal de Lisboa, de uma garrafa de vodka russa e de uma ‘matrioska’.
Dentro de uma caixa de cartão a dizer “from Russia with love”, a garrafa de vodka russa é dirigida a Fernando Medina, “para que possa afogar as mágoas depois dessa sua demissão”, indicou a presidente da JSD Distrital de Lisboa, Andreia Bernardo.
Já a ‘matrioska’ foi entregue por Ângelo Pereira, presidente da distrital de Lisboa do PSD, explicando que a boneca-russa representa, além do atentado à liberdade e à democracia, “outras mentiras de Fernando Medina”, nomeadamente que falhou na organização das comemorações do Sporting, que prometeu 14 novos centros de saúde e só inaugurou dois, que prometeu 6.000 casas e só entregou 300.
“Simboliza as mentiras de Fernando Medina e o único caminho é a demissão”, afirmou o social-democrata Ângelo Pereira, rejeitando a ideia de oportunismo político com a situação da partilha de dados pessoais de ativistas russos à embaixada da Rússia em Lisboa, por considerar que tal “é uma realidade que tem de ter consequências”.
Para o presidente da distrital de Lisboa do PSD, se Fernando Medina não se demitir, “o povo irá demiti-lo no dia das eleições autárquicas” e o próximo presidente da Câmara Municipal de Lisboa será o social-democrata Carlos Moedas, que se apresenta como “um candidato sério e transparente”.
Considerando que o ato de partilha de dados de promotores de manifestações “não é próprio de um estado de direito, nem de uma democracia”, o presidente da JSD, Alexandre Poço, defendeu que o problema “é demasiado grave para que a culpa morra solteira ou que a culpa passe por um procedimento que acabe por ilibar Fernando Medina de uma responsabilidade que é política”.
“Fernando Medina precisa de tomar uma atitude de um homem digno, de um político digno, que é apresentar a sua demissão”, reforçou Alexandre Poço.
Questionado sobre a possibilidade de a situação ter acontecido num executivo municipal liderado pelo PSD, o presidente da JSD afirmou que a responsabilidade é do decisor político “independentemente do partido”, assegurando que “não há clubismos ou fanatismo partidário”.
“Se um companheiro do meu partido ou de uma destas duas organizações [JSD e JP] tivesse um erro de tal forma grave, eu penso que não teria outra situação que não apresentar a sua demissão e assumir-se responsável politicamente por uma situação tão grave como esta”, apontou Alexandre Poço, acrescentando que, apesar de não ter sido Fernando Medina a enviar o ‘email’ com os dados dos ativistas, o presidente da Câmara Municipal deve assumir responsabilidades.
Na perspetiva do presidente da JP, Francisco Camacho, o protesto dos jovens é o reflexo de que “as novas gerações não toleram este espírito de restrição, de condicionamento, de qualquer tipo de cidadão no país”.
Sobre a partilha de dados pessoais de promotores de manifestações, o presidente da PJ disse que, independentemente do partido político, a postura quanto à situação seria de “revolta” e “repúdio”, assim como de solidariedade com os ativistas, “que hoje, infelizmente, não só já estavam numa situação difícil no seu país, agora veem os seus familiares condicionados por esta situação”.
“Envergonha as novas gerações, que nasceram em liberdade e querem continuar em liberdade, as novas gerações que defendem tanto mais a sua privacidade, os seus dados, a forma de, nascendo num contexto de União Europeia, poderem circular sem restrições”, referiu o centrista Francisco Camacho, considerando que “o município lisboeta e Fernando Medina dão, não só um péssimo exemplo, como um indicador muito preocupante para o futuro de Portugal”.
Os jornais Expresso e Observador noticiaram na quarta-feira que a Câmara Municipal de Lisboa fez chegar às autoridades russas os nomes, moradas e contactos de três ativistas russos que organizaram em janeiro um protesto, em frente à embaixada russa em Lisboa, pela libertação de Alexey Navalny, opositor do governo russo.
Numa conferência de imprensa, ao fim da manhã de quinta-feira, o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, admitiu que foi feita a partilha de dados pessoais dos três ativistas, pediu “desculpas públicas” e assumiu que foi “um erro lamentável que não podia ter acontecido”.
O autarca socialista anunciou também que pediu uma auditoria sobre a realização de manifestações no município nos últimos anos, tendo em conta que a câmara lidera o processo desde 2011, depois da extinção do cargo de governador civil.
O caso originou uma onda de críticas e pedidos de esclarecimento da Amnistia Internacional e de partidos políticos, nomeadamente do PSD, CDS-PP, Bloco de Esquerda, PCP, Iniciativa Liberal, Livre e Volt Portugal.
Carlos Moedas, candidato do PSD à Câmara de Lisboa, pediu a demissão de Fernando Medina e o partido Aliança disse que vai participar o caso à Procuradoria-Geral da República.
O PSD e o CDS-PP anunciaram que vão chamar Fernando Medina ao parlamento, com os sociais-democratas a estenderem esse pedido ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
A Comissão Nacional de Proteção de Dados confirmou que abriu um processo de averiguações à partilha de dados pessoais dos três ativistas russos.
Já esta sexta-feira, o embaixador da Rússia em Portugal, Mikhail Kamynin, assegurou que a embaixada eliminou os dados dos manifestantes do protesto contra o governo de Putin realizado em Lisboa, frisando que as informações não foram transmitidas a Moscovo.
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