“Essa transição tem de ser feita por nós, porque se não há de ser feita por outros”. Citando a "sustentabilidade e inovação" como pilares da Brisa, Paulo Mourisca, CEO da Via Verde — serviço detido pela operadora — apresentou-se no palco BTL Lab para explicar como estão a liderar o caminho para a transição digital e energética no setor da mobilidade.
Apesar dos tempos exigirem que a mudança seja rápida, quase a bater o limite de velocidade, a verdade é que as transformações na Brisa não são de agora. "Há mais de cinco anos decidimos digitalizar todos os serviços da Via Verde. Ainda não estamos lá, de todo, até porque o identificador continua a ser, apesar de existir há mais de 30 anos, a tecnologia mais eficiente para cobrar portagens”, referiu.
O identificador, leia-se, é aquele dispositivo de plástico que passou a ser adereço comum de muitos veículos em Portugal — 4.5 milhões, precisa Paulo Mourisca —, mas o objetivo é que desapareça. “Queremos deixar de vender identificadores, porque temos a noção que vai haver uma transição tecnológica e vão tornar-se obsoletos — queremos garantir essa responsabilidade e a reciclagem de todos os dispositivos”, sublinha o CEO da Via Verde.
“É um primeiro salto muito importante, o desta digitalização, porque o identificador está agarrado a um carro, mas nós não temos uma relação com ele. Com a digitalização, nós aproximamo-nos muito das pessoas, vamos conseguir começar a trabalhar comportamentos e melhorá-los, isso é que interessa”, continua. O futuro será trabalhar num modelo de subscrição — mas, para já, há outras mudanças em curso.
Tem sido um percurso paulatino, sem necessidade de recurso a GPS, o que a Via Verde tem vindo a fazer. E porque o terceiro dia da Bolsa de Turismo de Lisboa foi dedicado à sustentabilidade, Paulo Mourisca citou as formas como essa tem vindo a ser abraçada pelo serviço.
A primeira, e de “decisão relativamente fácil”, foi “digitalizar o estacionamento”. Com recurso a aplicação móvel, passou a ser possível processar os pagamentos em todo o país. “Damos uma conveniência muito grande aos clientes, não precisam de moedas, de papel e no caso do estacionamento de rua não precisam de voltar a correr para o parquímetro se não colocaram o tempo necessário para pagar”, argumenta.
Outra foi “antecipar e promover esta transição dos veículos automóveis” para a sua eletrificação. “É muito importante esta descarbonização”, frisa. Para tal, no verão de 2021 a Brisa conseguiu instalar na sua rede postos de carregamento para “quem queira atravessar Portugal de norte a sul, o consiga sem fazer qualquer stress”. “Eliminar a ansiedade de ter um carro elétrico” é o objetivo, e apesar de serem poucos os clientes, cerca de 100 mil, “é um caminho que temos a obrigação de percorrer”, defende o CEO da Via Verde.
No entanto, há dores de crescimento a ter em conta, como o de tentar associar estes postos à sua aplicação móvel. “Este é um salto grande que estamos a dar, porque a própria rede de carregamentos não está preparada para responder a uma aplicação, há carregadores que não estão preparados”, lamenta Paulo Mourisca. Ainda assim, o serviço considerou que tem de promover esta mudança, garantindo estar “todas as semanas, ou de 15 em 15 dias, a falar com a MOBI.E, empresa que gere a rede pública do país, para lhes dar feedback e falar em pontos em que têm de melhorar”.
Um outro setor na mira da Via Verde é o da multimodalidade, projeto que, apesar de iniciado também há cinco anos, ainda está em piloto. “Estamos a tentar dar aos utilizadores de transportes públicos aquilo que demos aos automobilistas há 30 anos, uma forma conveniente de aceder e pagar os transportes”, informa.
A ideia é, através da aplicação, que uma pessoa “entre onde precisa de entrar, planeie e no fim é cobrado como na Via Verde o preço certo daquela viagem”. Não só será útil para os utentes diários, como para os turistas, pois é “muito complexo perceber que tipo de bilhetes tem de comprar”.
No entanto, tal como ocorre com os postos elétricos, este é um dossier complicado, já que nem todos os operadores “estão preparados para esta solução”. Citando o exemplo de Lisboa, onde a Via Verde quer inaugurar este serviço, “a Carris pode estar pronta, mas não é suficiente para servir toda a mobilidade do transporte público de uma cidade”.
Até aqui falámos de projetos vencedores ou com boas perspetivas. Mas, e nos casos de tentativas falhadas? Paulo Mourisca fez questão de lembrar que a Via Verde tentou introduzir o conceito dos carros partilhados em Lisboa, através do serviço DriveNow, mas “não correu bem”. “É algo que deveria fazer todo o sentido. Os carros são um bem que passa 95% do tempo parado, é provavelmente o bem que em termos de custo de utilização é o menos eficiente”, recorda. No entanto, “o projeto não era viável economicamente e parámo-lo”.
O CEO da Via Verde citou este exemplo para recordar que “falhar faz parte de liderar a mudança”. “ Obviamente há muitas startups que falham, mas o importante é tentar e falhar depressa”, para depois reerguer-se com outro estímulo. Quanto aos carros partilhados, Paulo Mourisca garante que não abandonou esta ideia, mas que o serviço está a pensar noutra forma de a trabalhar.
Para o futuro, e à medida que os automóveis vão tendo sistemas de bordo cada vez mais sofisticados, a Via Verde quer também integrar os seus serviços dentro do próprio veículo, já sem necessidade de identificadores, “numa lógica de carros conectados e autónomos”.
Outro projeto na calha e em curso com várias startups, é introduzir serviços na aplicação para dar orientação, tanto a automobilistas como a visitantes a pé. No primeiro caso, a ideia é “conseguir dar uma identificação aos motoristas se há lugares disponíveis ou não, quer seja em parques ou estacionamento de rua” — até porque, segundo Paulo Mourisca, 15% do tráfego citadino é provocado por pessoas à procura de lugares. No segundo, o plano passa por “integrar outros serviços nesta mobilidade mais eficiente, como ajudar turistas a ir a museus ou eventos”.
“Se conseguirmos eliminar esses problemas, estamos a melhorar muito a sustentabilidade, a circulação e a diminuir o tráfego nas cidades”, garante. Até porque “a dependência do carro num centro urbano tem de ser cada vez menor. Sendo quase todos os nossos clientes automobilistas, temos de ser nós a promover esta transição”.
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