Segundo relato feito hoje à agência Lusa por Nuno Pimenta, comandante dos Bombeiros de Mira, o SIRESP só funcionou para as comunicações internas, o que contribuiu para o isolamento do concelho logo nas primeiras horas do combate ao fogo, que teve dezenas de frentes.
"Ainda hoje não é possível usar o SIRESP para comunicar para fora do concelho", explicou o comandante, na presença do presidente da Câmara de Mira, Raul Almeida, e do responsável pelo quartel local da GNR, sargento Luís Santos, que relataram situações semelhantes.
Segundo o autarca, esta limitação do SIRESP contribuiu para o isolamento de Mira durante a fase aguda dos incêndios, que tiveram dezenas de frentes num território de 120 quilómetros quadrados densamente florestado.
Com as redes de telemóveis em falha desde as primeiras horas, o SIRESP limitado e os principais acessos cortados (EN109 e A17), Mira esteve "entregue a si mesma" durante a noite de domingo para segunda-feira, refere Raul Almeida.
O combate aos incêndios foi feito pelos 32 elementos voluntários dos Bombeiros de Mira (apoiados por dez veículos), pelos funcionários da autarquia e pela população em geral, que defenderam as habitações com mangueiras, enxadas, tratores e outro equipamento agrícola.
"Sentimo-nos completamente abandonados ao longo do combate aos fogos", resume Raul Almeida, que conseguiu falar com o secretário de Estado da Administração Interna, a quem pediu "reforço de meios", que não apareceram. Só a meio da manhã de segunda-feira surgiram reforços no âmbito do Plano de Emergência Distrital, que ajudaram nas operações de rescaldo.
O autarca louva o papel das populações no combate aos incêndios. "Foram verdadeiros heróis", elogia.
Numa primeira estimativa, a Câmara de Mira avança que o incêndio "consumiu uma vasta área do concelho, percorreu todo o território municipal (cerca de 70%) e afetou o perímetro florestal, zonas urbanas e industriais".
Nas áreas urbanas "há a registar a perda de imenso património, nomeadamente casas devolutas e também de primeira habitação, existindo 12 famílias desalojadas que se encontram a ser apoiadas pelos serviços sociais locais e distritais".
Nas áreas florestais, as mais afetadas, "continuam a ocorrer pequenos reacendimentos enquanto se procede à consolidação do rescaldo pelos bombeiros, Instituto de Conservação da Natureza e Florestas e Proteção Civil Municipal, com recurso a máquinas rasto".
A situação mais crítica aconteceu no Polo I da Zona Industrial de Mira, que continua a arder, apesar do esforço dos bombeiros e da chuva que caiu durante a noite.
Os meios de Proteção Civil Municipal estão a "proceder à avaliação da toxidade dos fumos", tendo sido solicitado aos Sapadores de Coimbra um veículo especial de avaliação de matérias perigosas.
Na empresa TECPLASNOVA foram consumidos materiais altamente combustíveis e decorrem ainda trabalhos de arrefecimento e proteção ao depósito de combustíveis.
Totalmente consumidas pelo fogo foram as empresas Móveis Cruzeiro, DOM, POFIC e Maranhão. Outras empresas na Zona foram fortemente afetadas, como é o caso da SIRO, um dos maiores empregadores do concelho.
Raul Almeida anunciou que "a curto prazo" vai reunir com os empresários para tentar arranjar soluções para manter as empresas afetadas em funcionamento. No total, estão em causa quase 200 postos de trabalho.
A autarquia criou entretanto um Gabinete de Apoio à População que funcionará até ao fim do mês junto dos Serviços de Ação Social no edifício Mira Center (antiga Incubadora de Empresas). O objetivo é fazer o balanço dos estragos e encaminhar os lesados dos incêndios para as autoridades competentes.
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