Situado na vila de Camarate, em terrenos contíguos ao Aeroporto Militar de Figo Maduro e ao Aeroporto de Lisboa, este bairro de barracas do distrito de Lisboa, nascido na década de 1970, continua a albergar 34 famílias, depois de o município ter realojado outras este ano.
A eletricidade foi cortada em outubro de 2016.
Na altura, fonte da EDP – Energias de Portugal explicou que a empresa de distribuição e comercialização de eletricidade "desfez algumas ligações elétricas ilegais em habitações ilegais", uma vez que "podiam colocar em causa a segurança das pessoas e bens".
Segundo a resposta enviada então à Lusa, a ação foi efetuada com o conhecimento da Câmara Municipal de Loures e a EDP não "desligou ou desfez ligações a clientes que tinham ou têm contratos ativos com qualquer comercializador".
A autarquia chegou a disponibilizar geradores de energia, mas dois meses depois, em fevereiro de 2017, os moradores manifestaram a sua incapacidade financeira para suportar os custos com o gasóleo e pediu que fossem retirados.
Hoje à tarde, o bairro da Torre é palco de uma festa de Natal, momento aproveitado pelos moradores para transmitir esperança e não revolta, conforme explicou à agência Lusa a presidente da associação Torre Amiga, Ricardina Cuthbert.
“Vai ser uma festa para as famílias e para as crianças. Não queremos voltar a falar de uma situação que já todo o Portugal conhece e estragar o ambiente. Em vez disso, queremos passar uma mensagem de esperança”, afirmou.
No entanto, Ricardina Cuthbert manifestou mágoa pela “passividade” das entidades em resolver os problemas do bairro e em dar dignidade às 34 famílias que ainda ali residem.
“Basicamente aqui vive-se como nos anos 60. Lavamos as roupas nos tanques e comemos à luz de velas”, lembrou.
A presidente da Torre Amiga acusa ainda a Câmara Municipal de Loures de impedir os moradores de melhorar as condições das suas habitações: “Há uns tempos uma empresa ofereceu-nos material de construção, para que pudéssemos remodelar as nossas casas. A Câmara quando soube enviou cá a polícia e levaram-nos o tijolo”.
Apesar disso, Ricardina Cuthbert assegurou que os moradores mantêm a esperança de que possa nascer um “novo bairro da Torre”, com melhores condições para todos.
“Aquilo que é desejável é que neste ou noutro terreno nos deixem a todos construir as nossas casas. Queremos viver todos juntos, pois quem saiu daqui sofre pela falta da convivência de anos”, argumenta.
Por seu turno, em declarações à Lusa, o adjunto do presidente da Câmara Municipal de Loures para a área social, Nuno Abreu, ressalvou que a autarquia tem feito tudo o que está ao seu alcance para “erradicar as habitações precárias e dar condições de habitabilidade aos moradores”.
“O nosso objetivo é encontrar soluções dignas para todos os casos. Temos estado em contacto direto com o Governo e com o Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) para encontrar uma solução, uma vez que a autarquia sozinha não consegue resolver”, apontou.
Relativamente à falta de luz, Nuno Abreu referiu que o município já solicitou à EDP que arranje uma solução para o bairro.
Já sobre as queixas dos moradores de que a Câmara proibiu a reabilitação das casas, o representante camarário afirmou que o município terá uma tolerância zero face às tentativas de construir novas estruturas precárias.
“Se queremos erradicar não podemos permitir que se façam novas construções e que este problema se perpetue”, disse.
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