Num comunicado publicado através da conta oficial de Twitter do artista, é anunciado que "o nosso querido amigo Mark Lanegan morreu esta manhã na sua casa em Killarney, na Irlanda".
"Um cantor, compositor, escritor e músico amado, tinha 57 anos e deixa a sua mulher Shelley. Mas nenhuma informação será avançada neste momento. Pedimos por favor que respeitem a privacidade da família", lê-se ainda.
Dono de uma voz de barítono imediatamente reconhecível — ao mesmo tempo rouca e suave —, Lanegan celebrizou-se inicialmente à frente dos Screaming Trees, banda considerada pioneira da cena grunge de Seattle, mas com elementos de psicadelismo que os distinguiram dos demais.
A banda esteve no ativo de 1985 até 2000, tendo acabado por manifesta inatividade dos seus membros. A sua voz adornou os oitos álbuns dos Screaming Trees — o último, "Last Words: The Final Recordings", lançado apenas em 2011.
Ao mesmo tempo, Lanegan deu início a uma prolífica carreira a solo que se saldou em 12 álbuns, tendo o último sido "Straight Songs of Sorrow", datado de 2020. Além disso, o cantor assinou ainda álbuns colaborativos com Duke Garwood, e Isobel Campbell.
A natureza aventureira com que encarou o panorama musical levou-o também a tornar-se uma pedra de toque do som dos Queens of the Stone Age (QOTSA), famosa banda rock liderada por Josh Homme. A longa relação de amizade que manteve com o grupo estendeu-se desde a participação em "Rated R", de 2000, até "...Like Clockwork", de 2013, tendo chegado a fazer oficialmente parte da banda entre 2001 e 2005.
Esta, porém, é apenas uma das dezenas de bandas e projetos com as quais colaborou, pautando-se não só pela quantidade, como pela variedade de estilos musicais. Lanegan cantou com os Mad Season — supergrupo de rock que juntou vários ícones da cena grunge —, com o duo de eletrónica Soulsavers, com o produtor Moby e com a banda tuaregue Tinariwen e com os gigantes do drone metal Earth, só para citar alguns exemplos.
Outro dos mais singelos foi a sua participação em "Odeon Hotel", álbum de 2018 dos portugueses Dead Combo, dando voz ao poema de Fernando Pessoa "I Know, I Alone". Esta colaboração levou Lanegan a juntar-se a Tó Trips e Pedro Gonçalves ao vivo no Festival Paredes de Coura, em 2018, subindo a palco para cantar não só a canção já mencionada, como também "Wedding Dress" e "Fire of Love".
“Fiquei fascinado com a sua música e com o espetáculo que dão, são das bandas mais incríveis que já vi. Conheci o Pedro [Gonçalves, contrabaixista] quando dei um concerto acústico em Lisboa, e ele trouxe-me um livro de poesia do Fernando Pessoa, o qual eu já conhecia. Quando eu era adolescente, o Fernando Pessoa era dos meus poetas favoritos”, disse em entrevista ao SAPO24.
A relação de Lanegan com Portugal foi longa, estendendo-se a duas décadas. A primeira foi com os Queens of the Stone Age, no Festival Paredes de Coura de 2001, sendo que regressaria com essa banda por mais três ocasiões, a última nesse mesmo festival, em 2003. Apesar de ainda fazer parte dos QOTSA aquando da vinda para promover o álbum "Lullabies to Paralyze", Lanegan já não participou na totalidade dessa digressão.
Já a título individual — não incluindo o convite feito pelos Dead Combo —, o cantor visitou o nosso país por 12 ocasiões distintas. As derradeiras foram em 2019, em datas em Lisboa (Lisboa ao Vivo) e no Porto (Hard Club) na sequência do lançamento de "Somebody's Knocking".
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